domingo, junho 07, 2009

Aumentam as dúvidas sobre o «golpe de Estado»

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 07 Jun 2009


No dia em que enterraram Baciro Dabó, eram muitas as dúvidas da morte ter resultado da sua participação numa alegada tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, e várias as vozes que denunciavam uma ‘inventona’ no país.

Por Luís Andrade de Sá
da Agência Lusa


“Quando se prepara um golpe de Estado não se dorme na sua cama”, disse à Lusa o embaixador do Senegal em Bissau, Mamadou Dieng. “Nem tinham mandado”, acrescentou o general, decano dos diplomatas em Bissau, sobre os assassinos de Dabó.

O autoproclamado ‘Zidane’, 48 anos, deputado pelo PAIGC e candidato independente às presidenciais marcadas para 28 de Junho, foi morto por homens uniformizados na madrugada de sexta-feira, no quarto em que dormia.

Na mesma noite, o ex-ministro da Defesa e deputado do PAIGC Hélder Proença, refugiado em Dakar desde os assassínios em Março do Presidente Nino Vieira e do chefe Estado-Maior das Forças Armadas Tagmé Na Waié, regressou ao seu país e foi morto em circunstâncias ainda por esclarecer, conjuntamente com o motorista e um terceiro homem.

Um comunicado assinado pelo director-adjunto dos Serviços de Informações do Estado (SIE), Samba Djaló, garantiu que os dois tinham sido mortos quando em nome de um desconhecido Alto Comando das Forças Republicanas para a Restauração tentavam um golpe de Estado.

Mas, hoje, altos quadros do PAIGC, o partido no poder, e do Estado guineense, como a ministra dos Negócios Estrangeiros e o vice-presidente da Assembleia Nacional Popular, prestaram homenagem ao féretro do antigo ministro da Administração Territorial, que durante horas percorreu as ruas de Bissau.

“O PAIGC a homenagear quem o quis derrubar? Não faz sentido”, disse à Lusa Rui Landim, antigo dirigente do partido, alto quadro da Educação e analista político.

“Isto parece o fascismo e os esquadrões da morte do tempo do Brasil e do Chile”, acrescentou.

Diante da sede do PAIGC, na praça dos Libertadores, Landim e outros dois guineenses, “da geração e amigos de Proença mas dele afastados politicamente”, assistiam ao desfile fúnebre de Dabó, por entre dúvidas e críticas ao poder.

Na mesma praça, o embaixador do Senegal criticou a “falta de coragem política, quando a comunidade internacional nunca abandonou a Guiné-Bissau”.

“Mas a comunidade internacional não pode tomar a tutela do país”, advertiu.

O Presidente da República interino, Raimundo Pereira, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o ministro da Defesa, Artur Silva, continuam ausentes do país, sem reagirem à situação.

Informações colhidas pelas Lusa, e que circulam em alguns blogues locais, mas que não foram confirmadas oficialmente, garantem que o director do SIE, Antero João Correia, se encontra detido por se ter recusado a alinhar com a versão de golpe de Estado.

Igualmente detido, mas por alegada implicação no ‘golpe de Estado’, está o ex-primeiro-ministro Faustino Imbali, e a sua mulher continua a apelar às autoridades para que divulguem o seu paradeiro.

Contactado pela Lusa, o bastonário da Ordem dos Advogados, Armando Mango, disse que, de momento, não intervém no caso, remetendo para o Ministério Público a responsabilidade para apurar o paradeiro de Imbali – mas o procurador-geral da República continua incontactável e há vários dias que não é visto.



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