quarta-feira, abril 08, 2009

PM e Zamora Induta "fizeram conluio" para matar "Nino"

Origem do documento: jornal "Diário de Notícias", Lisboa, 08 Abr 2009


O actual primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, e o CEMGFA interino, Zamora Induta, fizeram "um conluio" para eliminar o Presidente "Nino" Vieira e Tagmé Na Waié, acusou hoje o antigo chefe de Governo Francisco Fadul.

"O Zamora (Induta) há muito queria eliminar 'Nino' Vieira, como já tinha conseguido eiminar Ansumane Mané (ex-líder da Junta Militar que derrubou "Nino" Vieira em 1999)", afirmou Francisco Fadul, em declarações à Agência Lusa, acrescentando que "Cadogo (primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior) não se sentia à vontade com Tagme Na waié (ex-CEMGFA) e queria os militares nas mãos dele".

"Houve um conluio. Um plano. Um golpe de estado de decapitação do Estado e do Estado-Maior General das Forças Armadas", disse Francisco Fadul, respondendo à questão se estava a acusar Carlos Gomes Júnior e Zamora Induta de conspirar contra "Nino" Vieira e Tagmé na Waié.

O antigo chefe de Governo chegou sábado de manhã a Lisboa para receber tratamento médico-hospitalar aos ferimentos sofridos com o espancamento de que foi alvo, alegadamente por militares em sua casa, em Bissau, no passado dia 31 de Março.

O espancamento ocorreu cerca de 24 horas depois de Francisco Fadul, que preside ao Tribunal de Contas (TC), ter acusado o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior de revelar atitudes de submissão perante os militares pelo que "devia demitir-se de funções".

"O primeiro-ministro fala com os militares de baixo para cima, numa atitude de completa submissão às Forças Armadas, quando na realidade ele é que é o chefe dos militares e devia dar-lhes ordens e não o contrário. O primeiro-ministro devia demitir-se das suas funções", defendeu Fadul, em conferência de imprensa realizada no passado dia 30 de Março.

O Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waié, e o Presidente da República, João Bernardo "Nino" Vieira, foram mortos em Bissau nos passados dias 01 e 02 de Março, respectivamente, com horas de intervalo.

Outro dos motivos por que considera ter levado ao espancamento que foi alvo prende-se com a alegada utilização, sem controlo, de dinheiros públicos pelas Forças Armadas.

"Exigiram-me satisfações. Torturaram-me sobre o facto de eu ter declarado publicamente que mais uma vez eles (militares) conseguiram pressionar o Governo, amedrontá-lo para poderem levantar o respectivo pacote orçamental do sector das Forças Armadas por inteiro, sem indicação das áreas de despesa", disse hoje Fadul.

"A minha função de presidente do Tribunal de Contas é exactamente adversa a este tipo de comportamentos: fiscalizar a utilização das receitas, e o como, o 'modus faciendi' e eu falei disso", acrescentou.

Francisco Fadul considerou não ser "admissível no momento em que surge um ministro das Finanças que quer pôr ordem nesse caos, o primeiro-ministro, por pressão dos comandos militares, por cobardia", submeter-se a pressões dos militares.

Numa reacção solicitada pela Lusa às acusações de Francisco Fadul, Zamora Induta disse que a Guiné-Bissau "vive num Estado de Direito".

"Estamos num Estado de Direito, em que cada um é livre de dizer o que bem entender. Só que há aqui um problema. As pessoas estão habituadas a não serem responsabilizadas por aquilo que dizem e isso não vamos aceitar de ninguém", disse Zaora Induta à Lusa.

A Lusa tentou também obter uma reacção do chefe do Governo, Carlos Gomes Júnior, que remeteu para mais tarde a sua posição, devido ao debate parlamentar de hoje em Bissau para discussão e votação do orçamento de Estado.



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