domingo, março 08, 2009

Tagmé Na Waié nunca escondeu as divergências com «Nino» Vieira

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 08 Mar 2009


O falecido CEMGFA guineense, general Tagmé Na Waié, cujo funeral se realizou hoje em Bissau, era um homem de poucas palavras, poucos sorrisos, pouco dado a protagonismos, contando, porém, com o respeito da hierarquia militar.

Tagmé Na Waié era natural de Gã Pará, uma pequena localidade no sul do país, mas é desconhecida a sua data de nascimento.

Assassinado num atentado à bomba no dia 01 de Março, Tagmé foi o terceiro CEMGFA a ser abatido na Guiné-Bissau na última década, depois de Ansumane Mané (2000) e Veríssimo Correia Seabra (2004), ambos mortos em circunstâncias ainda por clarificar.

De etnia Balanta, uma das mais importantes da Guiné-Bissau, Tagmé era CEMGFA desde de 2005, sucedendo a Seabra. No dia 04 de Janeiro de 2009, acusou elementos das milícias do também posteriormente assassinado presidente guineense, João Bernardo “Nino” Vieira, os “Aguenta”, de o terem tentado abater.

Tagmé, que deixa duas viúvas e uma filha, era considerado um “homem de confiança” de “Nino”, até que, em 1985, a amizade ruiu na sequência de uma pretensa sublevação de personalidades Balantas.

Torturado por ordens de “Nino”, seria, contudo, poupado às execuções que vitimaram o então primeiro-ministro Paulo Correia.

Nunca perdoou a “Nino” Vieira as torturas de que foi alvo e, pouco depois de sair da prisão, aderiu à Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá (RGB/MB), o primeiro partido político guineense da oposição.

Com a abertura do país ao pluralismo, em 1991, Tagmé afastou-se da política, mas viria a posicionar-se ao lado da Junta Militar no conflito de 1998/99, junto do general Mané.

As divergências com “Nino” foram então confessadas em declarações à SIC, ao afirmar que o objectivo era “matar” o “chefe” - “se me matarem de manhã, Nino morre à noite”.

Ascende a “homem de confiança” de Mané até à morte do líder da Junta Militar, em 2000, e ressurge três anos mais tarde no golpe de Estado de Setembro de 2003, que derrubou o regime de Kumba Ialá, aparecendo ao lado do auto-proclamado presidente da nova Junta, o general Seabra.

Novamente “braço direito” de um CEMGFA, passa a Inspector-Geral das Forças Armadas até Março de 2004 altura em que Seabra é assassinado igualmente em circunstâncias pouco claras, sucedendo-lhe interinamente no cargo até ao final da transição.

Reconduzido como CEMGFA por Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro de então, assiste ao regresso de “Nino” Vieira ao país, em Abril de 2005.

Com surpresa, “Nino” Vieira, que venceu as presidenciais de 2005, reconduziu-o mais uma vez no cargo, o que gerou grande apreensão em Bissau, temendo-se o ressurgimento das desavenças do passado, com ambos a recuarem nas divergências, por pressão internacional.

"Apagou inúmeros fogos" em 2005 e viveu depois anos “relativamente calmos”, tendo regressado à “ribalta” em Outubro de 2008, durante um suposto ataque à residência de “Nino”, em que repôs a calma entre os militares.

O general guineense Tagmé Na Waié, assassinado há uma semana num atentado à bomba contra o quartel-general das forças armadas, foi hoje sepultado hoje no cemitério municipal de Bissau.

Várias centenas de populares acompanharam o cortejo fúnebre do chefe de Estado das Forças Armadas desde o Salão do Clube Militar até ao cemitério de Bissau por ruas guardadas por polícias e militares.

A urna de Tagmé coberta com a bandeira da Guiné-Bissau foi levada num jipe de transporte de carga militar, proveniente do Senegal, e protegida por vários soldados da Polícia Militar.



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