sábado, março 14, 2009

Interferência de militares na actuação da PJ dificulta combates

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 14 Mar 2009


A eventual ingerência dos militares da Guiné-Bissau na esfera de acção da Polícia Judiciária local é um dos "problemas" no combate ao narcotráfico que utiliza aquele país da África Ocidental como rota de passagem da cocaína para Europa.

"Esse problema põe-se", admitiu à Agência Lusa João Figueira, inspector-chefe e porta-voz da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ) portuguesa, que, citando um relatório internacional, indicou o caso em que 500 quilogramas de cocaína apreendida pela PJ guineense foram posteriormente "confiscados" pelas Forças Armadas.

O pretexto dos militares foi de que a droga ficaria bem protegida nas instalações da PJ guineense, mas a verdade é que a "cocaína desapareceu".

"A PJ da Guiné-Bissau, com quem trabalhamos bem e na qual confiamos, tem apenas 60 elementos. Os outros são muitos", disse João Figueira, manifestando a "maior admiração" pelo trabalho da directora da PJ local, num país em que a "fragilidade do Estado", a corrupção, a ausência de "administração pública" e falta de unidade nacional, associada ao tribalismo, dificultam a acção policial.

A inexistência de um sistema prisional e uma "Justiça que não funciona" num país "muito pobre" completam, na sua perspectiva, um cenário em que "é fácil comprar pessoas" e instalar empresas de fachada, designadamente colombianas, que se dedicam ao narcotráfico.

Questionado sobre se a Guiné-Bissau já se transformou num "Narco-Estado", conforme indicam relatórios internacionais, o responsável da UNCTE disse à Lusa: "Tenho de dizer que é exagerado". Admitiu, porém, que essa ameaça existe.

Quando à possibilidade de as recentes mortes violentas do Presidente "Nino Vieira" e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, Tagmé Na Waié, poderem estar relacionadas de alguma forma com o tráfico internacional de cocaína, João Figueira contrapôs que "não há indícios concretos".

Para enfrentar o narcotráfico na Guiné-Bisseu, o responsável da PJ portuguesa sublinhou que "tem-se apostado na cooperação em diferentes níveis" com a Judiciária guineense, cujos elementos recebem "formação" em Portugal.

Contudo, a PJ guineense passa por dificuldades diversas, que vão desde a falta de dinheiro até à ausência de electricidade, que não lhes permite o uso de computadores.

Segundo indicações policiais, alguma da cocaína que chega à Guiné-Bissau é entregue a guineenses com canais de distribuição próprios, mas que são "estruturas pequenas". Daí, a droga é enviada, por via aérea, através de "correios" que transportam a droga (em média um quilograma) no interior do organismo, em cápsulas ou "bolotas".

Porém, a maior parte da cocaína que chega à Guiné-Bissau proveniente da América do Sul "volta para o mar" para chegar por barco à Europa. Outros caminhos não descurados são o trajecto por via terrestre até ao Norte de África e depois por mar e ainda a possibilidade de a cocaína poder entrar, por via aérea, em pequenas aeronaves que aterrem em aérodromos.

Tanto a Marinha como a Força Aérea Portuguesa têm, segundo João Figueira, desempenhado um papel importante na vigilância e controlo destes casos.

Uma das "armas" mais recentes da Europa contra este flagelo surgiu com a criação do Centro de Análise e Operações contra o Narcotráfico Marítimo (MAOC-N), que integra vários países da União Europeia, incluindo Portugal, onde tem a sua sede.



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