terça-feira, dezembro 09, 2008

Cristãos e muçulmanos juntos na quarta rádio mais ouvida do país

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Dez 2008


Na rádio católica da Guiné-Bissau Sol Mansi hoje é feriado para os funcionários muçulmanos, que celebram o Tabaski, os cristãos garantem a emissão mas no Natal serão eles a descansar.

"É muito bonito. Quando há uma festa muçulmana, os cristãos trabalham e quando há uma festa cristã trabalham os muçulmanos", afirma o padre Davi Ciocco, fundador da rádio Sol Mansi, onde trabalham dezenas de jovens guineenses de várias etnias e religiões.

As emissões da quarta rádio mais ouvida da Guiné-Bissau começaram em Fevereiro de 2001, mas a ideia para a sua criação nasceu durante o conflito militar de 1998/99.

"Eu estava em Mansoa e descobri como era importante a rádio em África e concretamente na Guiné-Bissau", disse o padre Davi Ciocco.

"Infelizmente descobri durante a guerra, porque as rádios foram uma arma das duas partes e as pessoas escutavam-na continuamente", explicou.

"E eu fiz esta reflexão muito simples: se a rádio foi importante para ganhar uma guerra, porque não começar uma rádio que ajude a ganhar a paz, o desenvolvimento, a reconciliação e o diálogo", disse.

O padre Davi não tem explicações para o facto de ter funcionários de várias etnias e religiões, apenas se lembra que "logo no início apareceram muitos jovens voluntários para colaborar com a rádio e uma parte eram cristãos e outros muçulmanos, evangélicos e de religiões locais".

"Não foi uma coisa pensada", sublinhou, acrescentando que, desde o começo, a rádio Sol Mansi tem esta característica inter-religosa e étnica.

Apesar de ser uma rádio católica, existem programas semanais da comunidade islâmica e também da igreja evangélica.

"Ajudar as pessoas a conhecer a religião é também uma maneira de prevenir o fundamentalismo e o terrorismo, que tem como base a ignorância religiosa", explicou o padre.

"Temos um espaço onde um imã explica o Corão aos muçulmanos (...) também ajudamos as outras religiões a conhecer o Islão e a acabar com as ideias erradas que muitas vezes são motivo de conflito", sublinhou.

Por outro lado, "muitos muçulmanos escutam a rádio sol Mansi e conhecem melhor a religião cristã e também acabam com ideias erradas que tinham", disse o responsável pela rádio, que já foi distinguida com dois prémios, um italiano e outro suíço, devido a esta característica ecumémica em prol da paz e do desenvolvimento.

Com um serviço noticioso diário, a grande aposta da rádio Sol Mansi é, sobretudo, a formação cívica, nomeadamente em áreas como a saúde através da divulgação das formas de prevenir algumas doenças.

"Esta é uma mensagem muito bonita também para a Europa que se está a tornar numa sociedade multicultural e os europeus não estão acostumados", salientou o padre Davi.

Para explicar a essência da rádio, o padre italiano contou a história de um jornalista que entrou nos estúdios da emissora e perguntou quem era cristão e quem era muçulmano.

Como resposta obteve que ali não havia cristãos nem muçulmanos, mas pessoas que queriam trabalhar juntas.

"Esta é uma mensagem importante, não devemos deixar de lado a nossa identidade, mas não devemos deixar que uma pessoa seja identificada pela religião ou etnia a que pertence", concluiu.

Para o futuro, os desejos do padre Davi são simples: melhorar a capacidade técnica da rádio e apostar na formação dos seus profissionais.



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