quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Muçulmanos contra projecto para abolir mutilação genital feminina

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 21 Fev 2008


Dois dirigentes da comunidade muçulmana da Guiné-Bissau insurgiram-se contra o projecto do parlamento de abolir no país a prática de mutilação genital feminina, considerando tal pretensão uma "afronta ao Islão".

Em conferência de imprensa realizada na quarta-feira, em Bissau, El Haj Abdou Bayo, presidente do Conselho Nacional Islamico (CNI), e Mustafa Rachid Djaló, presidente do Conselho Superior dos Assuntos Islamicos (CSAI), afirmaram ser contra qualquer discussão e eventual aprovação de legislação contra a prática "ancestral" da mutilação genital feminina.

De acordo com os dois dignitários islâmicos, os políticos guineenses "incorrem num grave erro e numa afronta ao Islão" se decidirem abolir um dos "sunnas", (mandamentos, em árabe) da religião muçulmana.

Na Guiné-Bissau, o Islamismo é a religião mais seguida, sendo praticada por cerca de 46 por cento da população.

O parlamento guineense, que se reúne em sessão plenária a partir do próximo dia 28, deverá debater uma proposta de lei apresentada pelo Instituto da Mulher e Criança (IMC) no sentido de ser adoptada legislação para abolir a prática da excisão no país, também conhecido pelo "fanado da mulher".

Segundo dados do IMC, só em Bissau e no ano de 2007 mais de quatro mil jovens foram sujeitas a excisão, situação que espelha o aumento da prática do "fanado" no país, apesar deste merecer a condenação da grande maioria da sociedade guineense.

Na opinião dos dois dirigentes religiosos, a prática do "fanado da mulher" é uma das recomendações constantes no Corão -livro sagrado dos muçulmanos - pelo que a sua abolição seria um "desrespeito" ao Islão.

O presidente da CNI apelou à classe política para que submeta o assunto a referendo, modalidade que não está prevista na Constituição guineense.

"Os políticos deviam ter o cuidado e levar esse assunto para um referendo nacional", disse El Haj Abdou Bayo.

Por seu turno, o presidente do CSAI acusou a classe política e as ONG de "atitudes contra o Islão" pela forma como têm tratado a questão de repatriamento de crianças talibés que são enviadas pelos pais para aprendizagem do Corão no Senegal.

Nos últimos meses, centenas de crianças guineenses foram repatriadas ou interceptadas na zona da fronteira entre a Guiné-Bissau e o Senegal.

A polícia e as organizações não governamentais locais dizem que estas crianças são escravizadas no Senegal ao invés de apreenderem o Corão.



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