terça-feira, junho 12, 2007

Funcionários da imprensa nacional sem salários há quase cinco anos

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 12 Jun 2007


Os funcionários da Imprensa Nacional da Guiné-Bissau (INACEP) estão sem receber salários há quase cinco anos, disse hoje o presidente do sindicato que representa os trabalhadores daquela empresa estatal, Monteiro da Cunha.

"Não recebemos salários há 58 meses, mas o pior é que ninguém nos diz se um dia ainda vamos receber alguma coisa", afirmou Monteiro da Cunha.

Na semana passada o secretario de Estado da Comunicação Social, João de Barros, visitou a INACEP, tendo reunido com os funcionários para discutir a actual situação salarial e condições de trabalho.

Sem querer pronunciar-se sobre a visita de João de Barros, o presidente do sindicato de base da INACEP lembrou que foram várias as visitas do género recebidas pelos trabalhadores sem que a situação se alterasse.

"Desde 2000 que recebemos aqui visitas de governantes e todos deixam promessas que nunca são cumpridas. Já estamos habituados a essa situação. São só promessas", sublinhou Monteiro da Cunha.

Antiga Casa da Moeda durante a época colonial, a INACEP tem para receber do Estado mais de mil milhões de francos CFA (1,5 milhões de euros ao câmbio actual) devido aos trabalhos realizados, nomeadamente o Boletim Oficial (Diário da República), papel timbrado, cadernetas, recibos para instituições estatais e livros escolares, entre outros.

"O mais grave é que o governo manda confeccionar coisas aqui mas nunca paga nada", frisou Monteiro da Cunha, lamentando que todos os executivos façam sempre o mesmo.

O presidente do comité sindical referiu-se ainda a "uma situação caricata" que disse acontecer durante a campanha eleitoral em que quase todos os partidos procuram os serviços da INACEP para a confecção de material de propaganda.

"Todos vêm cá com promessas de resolver a situação dos salários em atraso, mas assim que se apanham no governo nunca mais se lembram de nós. É a nossa triste sina", lamentou Monteiro da Cunha.

Questionado sobre a forma como os 114 funcionários da mais antiga tipografia da Guiné-Bissau, sobrevivem, Monteiro da Cunha afirmou que o "desenrasco é a solução" utilizada, enquanto esperam por "melhores dias".

A administração da empresa, cujo capital é detido na sua totalidade pelo Estado guineense, passou recentemente a distribuir um saco de arroz e cinco litros de óleo alimentar a cada funcionário no final de cada mês.

Mas o presidente do sindicato de base dos trabalhadores entende que essa formula não resolve o problema porque, sublinhou, "só o arroz e óleo não chegam para pôr a panela ao lume".

Monteiro da Cunha lembrou ainda outras despesas obrigatórias, nomeadamente o pagamento da escola das crianças, tratamento médico e renda de casa.

"Nem sei se ainda vamos receber em vida os salários que nos devem. Muitos dos nossos companheiros de trabalho já faleceram sem ver a cor do dinheiro", concluiu Monteiro da Cunha.

O grosso dos funcionários públicos da Guiné-Bissau não recebe salários há cinco meses.



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