quarta-feira, junho 20, 2007

Falta água canalizada e a população desespera

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 20 Jun 2007


Os grandes centros urbanos da Guiné-Bissau vivem há cerca de dois meses sem água canalizada fornecida pela Empresa de Electricidade e Aguas (EAGB) do país situação que está a originar o desespero da população.

Em Bissau, a capital do país, a água não corre nas torneiras de forma regular há mais de um mês e meio, situação que leva a que a população utilize todas as formas imaginárias para se abastecer de água.

Desde caravanas de mulheres durante o início da madrugada nas ruas, passando pelo aluguer de carrinhas para ir buscar água nos poços tradicionais, até filas de famílias numa bomba de água de uma empresa ou casa particular, há de tudo para a busca do precioso líquido.

A Agência Lusa percorreu alguns bairros periféricos de Bissau para conversar com várias pessoas e saber como fazem para arranjar água para as lides domésticas. De forma invariável, a conversa começa com críticas à EAGB e ao governo e termina com um apelo: "Socorram-nos, ajudem-nos a ter água".

Maimuna Dafé é uma mãe que "mobiliza" toda a família, desde há 15 dias, todas as madrugadas, para a procura de água, percorrendo, a altas horas da noite, o bairro de Antula Pal.

"Toda a gente aqui da casa tem que se levantar para a procura da água. Todos somos poucos para apanhar água. As vezes andamos com os alguidares, baldes, panelas e tudo mais, das três às seis da manha na rua a procura da água", afirmou Maimuna Dafé.

No bairro de Missirá, também em Bissau, há muito que os poços tradicionais voltaram a servir os habitantes já que os fontanários públicos, localmente designados bombas do bairro, deixaram de deitar água.

Cadijatu Daramé disse à Lusa que sabe dos perigos que podem advir da água apanhada num poço tradicional, uma vez que o líquido não é tratado com qualquer produto químico contra as bactérias.

Contudo, prefere correr esses riscos a ter que ficar sem água para cozinhar, lavar a loiça, tomar banho. A roupa suja é amontoada há três semanas, explicou Cadijatu Daramé.

"Sei dos riscos de apanhar doenças com essa água, mas não tenho outra solução. A roupa suja pode esperar, quando houver água canalizada ou das chuvas lavamo-la", observou Cadijatu Daramé.

A falta de água já começa a ser motivo de preocupação para as autoridades sanitárias. Agostinho Semedo, director-geral do Hospital Nacional Simão Mendes, afirmou à Lusa que o país corre riscos de ter um novo surto de doenças diarreicas, nomeadamente a cólera.

Segundo Agostinho Semedo, o perigo justifica-se com a época das chuvas, propícia a movimentos de detritos sólidos e líquidos no subsolo, mas com a crise de água que assola o país será difícil combater qualquer surto epidemiológico.

A capital guineense não é a única que está a ser afectada com a falta de água canalizada. Em Gabú, no leste, a população ameaça sair às ruas para manifestar ao governo o seu "sofrimento". Em Mansoa, no centro/norte do país, os homens, tradicionalmente longe do trabalho doméstico, percorrem cinco a 10 quilómetros em bicicletas para conseguir água nos poços tradicionais.

A administração da Empresa de Electricidade e Aguas da Guiné-Bissau (EAGB) recusa-se a prestar declarações sobre a crise de água e luz no país, remetendo para o governo qualquer pronunciamento sobre a matéria.

Desde o inicio desta semana que tem sido marcada e adiada uma reunião entre o secretario Estado da Energia, Eurico Abduramane Djaló, e a administração e os trabalhadores da EAGB.



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