quarta-feira, maio 16, 2007

Queda preço caju gera polémica, governo evita intervir

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 16 Mai 2007

O preço fixado pelo governo guineense para a comercialização da castanha do caju, principal produto de exportação do país, está a gerar forte polémica entre agricultores e comerciantes, levando os deputados a apelar à intervenção do executivo.

O deputado Armando Quintunda, do Partido da Renovação Social (PRS, segunda força política do país), instou mesmo o primeiro-ministro Martinho Ndafa Cabi a "pôr cobro à roubalheira" que disse estar a ser praticada pelos comerciantes aos agricultores.

Em causa, segundo o deputado Quintunda, está o facto de, em quase todo o país, os comerciantes estarem a comprar um quilograma de castanha de caju ao preço de 100 francos CFA (0,15 euros) ou menos de que isso, contrariando o valor fixado pelo governo que é de 200 francos CFA (0,30 euros).

A denúncia do deputado Quintunda foi unanimemente apoiada por outros parlamentares, que reportaram situações que estarão a acontecer nas zonas em que foram eleitos.

Um parlamentar eleito pelo círculo de Gabú (leste) avisou que os agricultores da zona "podem sair em protesto para as ruas" da cidade, 200 quilómetros a leste de Bissau, caso o governo não intervenha para obrigar os comerciantes a "respeitar o preço fixado".

O deputado Bubacar Ly, presidente da Comissão Especializada do Parlamento para a Área Económica, instou mesmo o presidente do hemiciclo, Francisco Benante, a convocar o governo, com carácter de urgência, para uma explicação sobre a campanha da comercialização do caju.

No entanto, Bubacar Ly, parlamentar eleito pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, principal força política do país), disse compreender ser essa "uma diligência impossível", pelo facto de o governo ainda não ter apresentado o seu programa de acção.

"Mas, com a confusão que reina na presente campanha do caju, não sei se o presidente do Parlamento não deveria convocar, a título excepcional, o ministro das Finanças", sugeriu.

Segundo este parlamentar, há indicações segundo as quais a "confusão" dos preços da compra e venda da castanha do caju se deve a um negócio mal concretizado pelo anterior governo com uma empresa indiana, a OLAM Internacional, principal compradora de caju no mundo.

Alegando fuga ao fisco, o anterior governo, liderado por Aristides Gomes, confiscou cerca de 6.000 toneladas já adquiridas pela empresa indiana.

Segundo Bubacar Ly, a OLAM "estará a chantagear" o mercado como forma de represália, o que tem levado a que os comerciantes locais, intermediários entre a empresa indiana e os agricultores guineenses, não queiram comprar o caju ao preço fixado pelo governo.

"O ministro das Finanças devia explicar ao país se de facto é a situação da OLAM que tem estado a atrofiar a campanha da comercialização do caju", defendeu.

Relatos feitos por estações de rádio de Bissau revelaram vários incidentes em outras localidades do país, indicando que há ameaças de agressões físicas entre agentes das autoridades e agricultores.

Em Bolama, no arquipélago dos Bijagós, o delegado regional do Ministério do Comércio foi ameaçado por agricultores que pediram a sua intervenção para obrigar os comerciantes locais a respeitar o preço.

Em Mansoa, no norte, comerciantes mauritanos que compravam o quilograma de caju ao preço de 100 francos CFA foram detidos pela polícia.

Nas declarações públicas, tanto o primeiro-ministro Martinho Ndafa Cabi como o ministro do Comércio, Henry Mané, têm evitado admitir qualquer intervenção do governo para obrigar o respeito pelo preço fixado.

A Guiné-Bissau exporta em média por ano 120 mil toneladas da castanha de caju para a Índia, o que rende aos cofres do Estado cerca de 50 milhões de dólares (38,5 milhões de euros).



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?