terça-feira, abril 10, 2007

Cidade isolada do sul no roteiro do tráfico de droga

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2007

Esquecida e isolada, a cidade de Catió, no sul da Guiné-Bissau, tem sido alvo da atenção da imprensa guineense após o administrador local ter denunciado a utilização de um campo de aviação para entrada de droga no país.

A denúncia foi feita na sequência de uma operação da Polícia Judiciária guineense que levou à apreensão naquela região de mais de 600 quilos de cocaína, queimados na sexta-feira perante dezenas de jornalistas.

A agência Lusa percorreu os cerca de 300 quilómetros entre Bissau e Catió e encontrou uma cidade esquecida e isolada, onde a pouca população se recusa a falar dos alegados "estranhos movimentos" registados desde o final do ano passado.

Por medo ou puro desconhecimento, um polícia local, que pediu para não ser identificado, afirmou não ter conhecimento dos "assuntos da droga".

Questionado sobre um eventual aumento do movimento aéreo, limitou-se a repetir não ter conhecimento de nada.

Mais cinco minutos de conversa e explicou que só cumpre as suas funções de polícia de ordem pública e que o campo de aviação civil de Cufar, situado a 10 minutos da cidade, é controlado pelos militares.

Apesar de a única via de acesso a Catió ser uma picada com cerca de 60 quilómetros em muito mau estado, a ligação da cidade ao campo de aviação civil é feita através de uma estrada alcatroada, que termina exactamente na pista aérea.

Sem qualquer tipo de controlo, facilmente se chega à pista do campo de aviação aproveitada por crianças para as suas brincadeiras.

Com mais de três quilómetros de comprimento e uma largura considerável, a totalidade da pista está alcatroada e em bom estado, terminando junto a uma tabanca e a um quartel militar, onde era visível um camião cisterna.

No local, populares confirmaram a existência de movimento aéreo.

"É sempre de madrugada, entre as 03:00 e as 04:00 da madrugada", disse um jovem.

"Há três dias aterrou um avião às 04:00 da madrugada", acrescentou.

A população que habita próximo do campo de aviação confirmou o movimento aéreo, mas desconhece as razões para os aviões aterrarem durante o período da madrugada.

Questionado sobre a falta de sinalização na pista para fazer aterragens nocturnas, o jovem explicou que há pessoas na pista "com roupas que dão luz".

No início da semana passada a Polícia Judiciária da Guiné- Bissau apreendeu 635 quilogramas de cocaína numa operação realizada naquela região.

Segundo as autoridades, a droga entrou no país através de um avião proveniente de um país da América do Sul que aterrou na pista de Cufar.

As condições sócio-económicas da população guineense associadas à falta de capacidades institucionais e operacionais para combater o tráfico ilícito tornaram a Guiné-Bissau num local de armazenamento da droga com destino ao mercado europeu.

Em declarações à Agência Lusa, no início de Fevereiro, o director da Polícia Judiciária guineense referiu que as condições sócio-económicas da população são um atractivo para os traficantes de droga, com poder económico para subornar pessoas que na maioria dos casos estão com meses de ordenado em atraso.

"Uma pessoa que não recebe há muitos meses pode cair na tentação de deixar passar droga por algum dinheiro. Esse é outro dos problemas que estamos a enfrentar neste momento", disse o director- geral da PJ guineense.

Um recente estudo da ONU referia que o tráfico de droga na Guiné-Bissau está a ameaçar a estabilidade do Governo com traficantes de droga a conseguir subornar funcionários de ministérios, militares e policias.

A debilidade das autoridades guineenses, da população e das infra-estruturas do país são a principal razão para a Guiné-Bissau se ter tornado numa "placa giratória" do mercado do tráfico de cocaína, segundo a ONU.



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