terça-feira, abril 17, 2007

Casamansa: um conflito esquecido entre Gâmbia e Guiné-Bissau

Origem do documento: www.agenciabissau.com, 17 Abr 2007
por António Nhaga

A População de Casamansa está unânimes em afirmar que o conflito armado que está a ceifar milhares de vidas humanas naquela região Sul de Senegal entre a Gambia e Guiné-Bissau é ignorado pela comunidade internacional.

Os casamansenses dizem que há 26 anos que milhares de população da região se encontra deslocada e que houve perda de milhares de vidas humanas, mas ninguém da comunidade internacional se preocupou de encontrar uma solução para pôr fim o conflito na região Sul de Senegal.

Na realidade, mesmo agora com a reeleição de Abdoulaye Wade para a presidência de Senegal, com o fim do conflito com as Forças Armadas Revolucionária do Povo (FARP) da Guiné-Bissau e com a morte do seu Secretário-geral e sua guia espiritual Abade Augustin Diamacoune Senghor, o Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) ainda continua a combater nas florestas de Casamansa.

MFDC está agora a procura de encontrar a melhor forma de reorganizar-se para continuar a dinamizar a sua luta para poder negociar com o governo de Senegal em posição de força.

A sua reorganização passa necessariamente pela reintegração dos homens do Comandante e Chefe das Operações do MFDC Salif Sadio que encontram neste momento a combater na floresta entre Diouloulou e Séleti na fronteira com a Gambia, no grupo dirigido por César Badiante.

Para isso, seria necessário primeiro afastar os dois Comandantes ( Salif Sadio e César Badiante) que neste momento dirigem as operações nas florestas de baixa Casamansa (César Badiante) e na floresta Diouloulou e Séleti (Salif Sadio).

O ex-Secretário de Estado-maior General do MFDC e de Salif Sadio, Dauda Djomel Baldé (vulgo Dede Baldé) é o homem que poderá ser a figura de consenso para líderar as forças do MFDC reintegradas num único grupo de guerrilha armada.

Com o desaparecimento físico de Abade Augustin Diamacoune Senghor, todos os guerrilheiros que combatem agora nas duas florestas estão unânimes de que é necessário de unir as duas alas armadas do MFDC. Pois, só assim é que a ala armada do MFDC poderá estar em condições de falar a mesma voz que consequentemente dinamizará a ala civil para falar também a mesma voz que possa conduzir as negociações com o governo de Senegal a bom porto.

A reintegração das duas alas armadas do MFDC após da morte do seu líder espiritual visa a sua reformulação em todos os sentidos para o poder dinamizar militar e politicamente no sentido de poder encontrar aliados e parceiros para a sua causa a nível da sub-região e internacionalmente.

Dede Baldé apontado como provável Chefe de Estado-maior General do MFDC, neste quadro de reintegração, garante que se assumir o cargo em três meses resolverá a situação interna do movimento, levando-o a falar a mesma voz sobre a guerra que há 26 anos ceifa milhares de vidas humanas na região de Casamansa.

O Antigo Secretário de Salif Sadio não tem dúvida que, se assumir a chefia de Estado-maior General do MFDC, em três meses haverá estabilidade política e militar na região de Casamansa.

Nas suas palavras, é necessário e urgente envolver Portugal e França como as antigas potências colonial na procura da solução internacional para o problema de conflito em Casamansa. Pois, com a contribuição destes dois países da UE poderá haver uma solução que promova a estabilidade duradoira naquela região Sul de Senegal.

Os homens do Comandante Salif Sadio que continuam a combater ferozmente na floresta da fronteira entre Senegal e Gambia não vê com bons olhos o envolvimento de Portugal e França na procura da solução para o problema do conflito armado na região de Casamamsa.

Contudo, Dede Baldé originário da etnia fula defronta um grande obstáculo para chegar a chefia do Estado-maior General do MFDC. Pois, todos os homens que dirigem neste momento as duas alas armadas do MFDC são da etnia Djola. Por exemplo na floresta da fronteira com a Gambia, Chefe de Operação e de Guerra do MFDC é Salif (de etnia Balanta Mané), Comandante da Disciplina Ansumane Koubalo Sow Sambu (de etnia Djola) e Infali Bassene (de etnia Djola) e na floresta de baixa Casamansa Comandante César Badiante (de etnia Djola).

Todas as barracas ou melhor todas as estruturas do comando intermédia da ala armada do MFDC estão a ser neste momento dirigidos por uma pessoa de etnia Djola. A visibilidade de homens da etnia Djola é de tal ordem que um observador menos atento poderá pensar que só Djola é que estão a combater nas duas florestas.

Aliás esta predominância de etnia Djola na chefia dos guerrilheiros do MFDC foi uma das razões que levou Dede Baldé abandonar as funções de Secretário de Estado-maior General do MFDC. Sempre tentou alertar Comandante Salif Sadio que o facto de estrutura da Hierarquia militar do MDC estar a ser dirigido por Djola tem dificultado muito o avanço da luta e de processo negocial com o governo de Senegal.

Os Comandantes de Batalhões do MFDC, todos da etnia Djola, consideram que a estrutura da hierárquica do movimento está neste momento a ser dirigida por pessoas da sua etnia por questão de Confiança porquanto os fulas têm dupla personalidades, não podendo assim ser confiados a responsabilidade de liderança para não atraírem a causa da luta do povo de Casamansa.

Não obstante, a guerra que travou com as FARP da Guiné-Bissau, onde saiu derrotado o Comandante Salif Sadio instalou agora na floresta entre Senegal e Gambia e continua a combater, sem tréguas, os militares senegaleses.

As aldeias Balondjine, Koussabel, Wankara, Oulampane, Badjana e Tandine de Bignona têm sido fustigadas pelos homens de Salif Sadio perante os militares senegaleses algo impotente. Pois, quando se chega a uma destas aldeias é visível a actuação dos homens de Salif Sadio. Aliás em todo o distrito de Bignona paira o espectro de uma guerra que ainda não tem fim a vista.

Os militares armados até aos dentes e com carros blindades patrulham todas as ruas de distritos de Bignona. Mesmo assim torna-se difícil controlar a acção dos homens de Salif Sadio. O que torna o clima ainda mais tensa, uma vez que ninguém sabe quem é quem. Todos desconfiam de todos. Quando, por exemplo, chega a Bignona um estrangeiro, sobretudo africanos, é logo perseguida pela polícia local para apurar da sua actividade no distrito.

Em Bignona quase todos homens dos 35 a 40 anos conhecem ou tem um colega que esta a combater na floresta. Pois, antes do MFDC desencadear na década de 1980 o conflito armado, os homens hoje que combatem na floresta estavam nas escolas secundária de Bignona e de Diouloulou ou em Ziguinchor, capital de Casamansa.

Outro aspecto que também faz parte da vida quotidiana de toda a região de Casamansa é de famílias que tem filhos a combater na floresta que são perseguidas ou filhos que os país combatem nas duas florestas que tem medo de reconhecer o poder paternal e alguns abandonam a região e não querem voltar para não serem vitimas na calada da noite.

Na região de Casamansa ninguém confiam em ninguém sobretudo quando se pretende abordar com os casamansenses o problema do conflito armada que está a ceifar milhares de vidas humanas naquela região Sul do Senegal.

O desaparecimento físico do Presidente do Conselho Regional de Ziguinchor Mamadou Lamine Badji, em plena cidade da capital da região, deixou as pessoas estupefactas sem nenhuma explicação. Mas, uma coisa é certa, é uma prova inequívoca de que ninguém está segura na região de Casamansa.

Enquanto as duas alas armadas se procuram encontrar a solução para a sua reunificação, a ala política digladiam na sucessão do seu líder Abade Augustin Diamacoune. Três figuras (Secretário Geral Adjunto e Representante do MFDC em Paris Mamadu N´Krume Sane, Representante do MFDC em Lisboa Ansomana Badji e Jean Marie Biaguy, em Ziguintchor) reivindicam a liderança do movimento deixado pelo Abade Augustin Diamacoune.

TRÊS CANDIDATOS FILHOS DE CASAMANSA

Entre os 15 candidatos nas últimas eleições presidenciais, três são filhos de Casamansa que não tiveram coragem, durante a campanha discutir profundamente o problema da região: Robert Sagna (de etnia Djola, natural de Ziguintchor), Amadou Diallo (de etnia Fula, natural de Kolda) e Landing Savane (de etnia Mandinga, natural de Bignona).

Todos os três evitaram de pronunciar ao longo da sua campanha eleitoral o problema do conflito armado em Casamansa. Pois, seriam vistos como estando a fomentar o separatismo.

Contudo, eram recebidos pelos populares da região como filhos da casa. “ Este é dos nossos”, este eram as palavras que se ouviam quando um dos três filhos da região candidatos as presidências chegavam a uma das vilas ou aldeias de Casamansa para um comício eleitoral.

Mesmo assim nenhum destes três candidatos conseguiu vencer as eleições em Casamansa. Robert Sagna conseguiu apenas a segunda posição depois de Abdoulaye Wade.

Dos 15 candidatos as últimas eleições presidenciais senegalesas, Moustapha Niasse foi o único candidato que teve uma posição clara sobre o conflito de Casamansa. O candidato de “Alternative 2007” assumiu que se ganhasse as eleições iria internacionalizar o conflito da Casamansa. Nas suas palavras, durante a campanha eleitoral, a solução realista para conflito armada de Casamansa passa pelo envolvimento da comunidade internacional.

Abdoulaye Wade que teve sete anos no poder e agora reeleito manteve em silencioso, mesmo sabendo que todos “demarches” que fizera e os acordos de paz que assinara com os rebeldes de Casamansa morreram a nascença.

A tarefa, na realidade, não é fácil para chefe de Estado senegalês. Pois, para conseguir uma paz efectiva para Casamansa precisa de envolver a Guiné-Bissau e a Gambia. Por outras palavras, envolver o Presidente da Guiné-Bissau General Nino Vieira e da Gambia General Iaia Djame.

Resta saber se na realidade os dois países ou dois generais que dirigem os dois países estão em condições de fazerem parte da solução do conflito armado de Casamansa. Pois, dois países têm nas suas fronteiras rebeldes. O que torna a sua independência na procura da solução para Casamansa algo nebulosa.

Guiné-Bissau, por outro lado, está abraço com a crise política e parlamentar sem fim a vista. Agora caiu o governo liderado por Aristides Gomes suportado pelo Fórum da Convergência para o Desenvolvimento e emergiu um novo governo liderado por Martinho N´Dafa Cabi suportado pelo Pacto de Estabilidade Politica Nacional cujo contornos ainda se desconhecem na sociedade guineense. Portanto, está ainda muito aquém de ser um interlocutor válido para Abdoulaye Wade.

A Gambia, por seu lado, tem visto, nos últimos tempos, as suas relações com Senegal a degradarem-se progressivamente, uma vez que Senegal não vê com os bons olhos a instalação de Estado-maior de Salif Sadio na floresta Transgambiana.

É perante este dilema de Abdoulaye Wade conseguir ter nos dois países um interlocutor credível aos olhos dos rebeldes que Dede Baldé considerou necessário o envolvimento das potências coloniais na solução do problema de conflito armado de Casamansa.

Sem papa na língua Dede Baldé afiança que Portugal poderia desempenhar agora durante a sua presidência da UE um papel crucial para a resolução do conflito de Casamansa. Pois, o conflito armado de Casamansa deveria estar também na agenda da Cimeira Europa-África que terá lugar durante a presidência portuguesa da UE.


Fuente: Agência Bissau



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