segunda-feira, março 26, 2007

«Falta informação sobre exploração fosfatos e petróleo»

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 26 Mar 2006

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) está preocupada com a "ausência de informação pública" das autoridades da Guiné-Bissau sobre a exploração de fosfatos e petróleo no país.

Em declarações à Agência Lusa, o guineense Nelson Dias, representante da UICN na Guiné-Bissau, explicou que a sua organização desconhece as políticas que o Governo guineense pretende adoptar para a exploração de reservas que, segundo estudos, existem no norte e no sul do país.

Segundo Nelson Dias, antigo secretário Estado do Plano da Guiné-Bissau, a ausência de informação tem contribuído para um clima que, defendeu, não ajuda as próprias autoridades e deixa preocupada a sua organização bem como as populações.

O representante da UICN citou o caso das populações da região de Farim, no norte, ameaçadas com mudanças das suas aldeias para novos espaços, uma vez que as suas terras foram referenciadas como contendo minas de fosfato.

A ausência de uma informação pública leva a que haja um clima de nervosismo no país, declarou Nelson Dias, explicando que as populações estão preocupadas porque não foram informadas sobre "questões prévias" tais como para onde, como e a que custo é que vão ter que se mudar para outras terras.

O representante da UICN referia-se aos direitos de uso da terra e aos rituais praticados pelas populações que vão ser mudadas de lugares de lavoura, cemitérios e zonas de lazer ancestrais.

Técnicos sul-africanos já se encontram a trabalhar na região de Farim na prospecção de fosfato, tendo a perspectiva de iniciar a exploração em 2008. O governo guineense admite mandar realojar populações inteiras de dezenas de aldeias para outras localidades.

A importância do rio Cacheu, que banha toda a zona norte da Guiné-Bissau, para a preservação de espécies como o camarão e os peixes é outra das preocupações que a UICN pretende ver salvaguardada antes do arranque da exploração do fosfato de Farim.

Em relação ao petróleo, Nelson Dias critica a actuação das autoridades guineenses por ausência de informação sobre os benefícios, mas chama a atenção sobre a tecnologia a usar na exploração e o futuro do ecossistema nos arquipélagos dos Bijagós, zona de maior concentração das reservas do crude do país.

"Ninguém está contra a exploração do petróleo na Guiné-Bissau. Estamos é atentos ao tipo de tecnologia a ser aplicada para evitar eventuais consequências - no meio ambiente- que estão a acontecer em outras partes do mundo", declarou o representante da UICN, citando o caso da Nigéria.

"A Nigéria recebeu nos últimos 50 anos cerca de 300 biliões de dólares em receitas do petróleo, mas o Delta do Níger, onde existem maiores reservas, é a zona mais confusa e pobre da Nigéria, devido a falta de investimento de qualidade e de tecnologias adequadas", disse Nelson Dias.

No caso do arquipélago dos Bijagós, no sul da Guiné-Bissau, o representante da UICN entende que o uso da tecnologia não apropriada poderá afectar a vida das populações e "agredir" o ecossistema da zona.

Nelson Dias lembrou o facto de o arquipélago dos Bijagós ser a zona onde se dá o encontro das correntes quentes da Guiné e Benguela com as frias das Canárias, um local preferencial para a reprodução de espécies.

O responsável da UICN na Guiné-Bissau citou ainda o facto de o país possuir cerca de 54 mil quilómetros quadrados de plataforma continental, sendo, por isso, um centro por excelência de recursos marinhos, para alertar para o perigo de uma exploração petrolífera não cuidada.

Nelson Dias aconselhou as autoridades guineenses a terem mais abertura, pondo à disposição das populações toda a informação sobre a exploração dos recursos minerais, adoptando, para o caso do petróleo o modelo dos países nórdicos.



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