quarta-feira, novembro 09, 2005

Missionários católicos também fazem greve

Origem do documento: www.lusa.pt, 09 Nov 2005

Violência contra missões católicas em Guiné-Bissau é "intolerável" - bispo Bissau

Bissau, 09 Nov (Lusa) - O aumento da criminalidade está a tornar-se "intolerável" na Guiné-Bissau, onde as diferentes missões católicas espalhadas pelo país têm também sido um alvo privilegiado dos assaltantes, denunciou hoje o bispo de Bissau.

Numa conferência de imprensa, realizada na Cúria de Bissau, D. José Camnaté na Bissign lamentou "profundamente" a situação e indicou que, apesar dos sucessivos apelos feitos nos últimos anos às autoridades guineenses, nada tem sido possível fazer.

"A polícia responde-nos sempre que não dispõe de meios humanos e materiais para fazer vigilância às (cerca de 30) missões católicas existentes no país", sublinhou o prelado guineense, que tinha a seu lado o bispo de Bafatá (leste), D. Pedro Carlos Zilli.

Segundo os dois únicos bispos guineenses, em 2002 e 2003, as missões católicas foram alvo de 12 assaltos, enquanto em 2004 aconteceram quatro e desde o início deste ano já vão em uma dúzia.

Nesse contexto, os mais de 300 missionários que actuam na Guiné-Bissau cumprem hoje, "num gesto simbólico, uma espécie de greve" de um dia, parando todas as suas actividades nas escolas, hospitais, postos de assistência médica e paróquias.

"É para denunciar esta situação intolerável que assumimos hoje esta posição. Mas isso não significa que não possamos dar a assistência em casos de emergência", uma espécie de "serviços mínimos" na área da Saúde, sublinhou o bispo de Bissau.

Na intervenção de fundo, a cargo de D. Pedro Zilli, a Igreja Católica criticou o Estado guineense por não "assumir com mais convicção e determinação o seu dever de providenciar, em sectores chave, como a saúde e educação".

D. Pedro Zilli lembrou que a actuação das missões católicas incidem precisamente destas duas áreas, sublinhando que deixariam as obras sociais que as ocupam se o Estado tivesse também "maior intervenção".

O bispo da diocese de Bafatá, 150 quilómetros a leste de Bissau, suscitou também a preocupação face a uma questão que é do "interesse nacional", questionando-se sobre o porquê de "tanta insegurança" e porque razão não se consegue combater a criminalidade.

"Porque razão é que a polícia não está à altura da sua força e missão?", questionou ainda D. Pedro Zilli, que apelou aos governantes e à comunidade internacional para que "façam algo para mudar a situação".

"Fala-se de reconciliação e de paz. Mas nem uma nem outra poderão existir sem um clima de segurança. à sociedade civil pedimos que não se resigne e que encontre formas de luta para que a insegurança e a impunidade deixem de reinar no nosso meio", acrescentou.

Segundo D. Pedro Zilli, os assaltantes nunca feriram ninguém, tendo na mira dinheiro, documentos e alimentos. O último assalto ocorreu na noite de 30 para 31 de Outubro, em Nhabidjon, uma pequena localidade do centro do país, durante o qual foram disparados dois tiros, sem consequências.

O bispo de Bafatá deu também conta de irmãs que foram agredidas e ameaçadas de violação, facto que, contudo, nunca se verificou.

Desde 01 de Janeiro deste ano, já se registaram 12 assaltos em 11 missões católicas, pois uma delas, a congregação das Irmãs de Cumtum-Madina, na capital guineense, já foi roubada em duas ocasiões.

Os restantes dez assaltos ocorreram nas missões das Irmãs de N+Dame, Irmãs de Catió, Irmãs da Casa de Formação Diocesana, Irmãs de Farim, Irmãs da Imaculada Cúria, Irmãs de Canchungo, Padres do CIFAP de Bula, Seminário Maior Diocesano, Padres de Quinhamel e Centro de Formação de Nhabidjon.
JSD. Lusa/Fim



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