sexta-feira, outubro 07, 2005

Discurso de Nino Vieira na tomada de posse

Origem do documento: www.guine-bissau.com, 07 Out 2005

Eis na íntegra o seu discurso.

• Suas Excelências, Senhores Chefes de Estado e de Governo
• Sua Excelência, Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular
• Excelências, Senhores Ministros
• Excelências, Senhores Embaixadores e Representantes do Corpo Diplomático
• Digníssimos Senhores Deputados
• Caros compatriotas,
• Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores

Cumpre-me a elevada honra e o imenso prazer de proceder a apresentação do meu discurso de investidura enquanto Presidente eleito da República da Guiné-Bissau, por sufrágio universal, directo e secreto, num contexto caracterizado por enormes desafios que se perfilam no horizonte.

Neste momento solene não podia, deixar de exprimir na, presença dos ilustres convidados nacionais e estrangeiros, amigos da Guiné-Bissau, quão incomensurável é a minha satisfação pela alta confiança que o meu povo volta a conferir-me, sob forma de um novo mandato para presidir ao seu destino e cuidar da sua segurança e bem-estar.

Contudo essa satisfação é diminuída em virtude da actual epidemia de cólera que assola o nosso país há alguns meses, com todo o seu cortejo de vitimas. Face a este drama nacional, permitam-me endereçar os meus profundos sentimentos de dor e de solidariedade às famílias das vitimas, e apelar à comunidade internacional a dar todo o seu apoio ao povo da Guiné-Bissau para a erradicação, ou pelo menos a inversão da tendência evolutiva desta doença.

Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Com a realização da presente cerimónia o nosso país celebra o fim de mais um ciclo de transição política e assinala-se, em consequência a total reposição da legalidade democrática e constitucional, após o golpe de Estado de 14 de Setembro de 2003. A primeira fase dessa transição fora marcada pelas eleições legislativas de 2004, esta última leva agora o selo das presidenciais, consideradas como livres, justas, e transparentes, quer pelas instituições judiciais da Guiné-Bissau, quer pela comunidade internacional.

Acreditamos que, um passo importante foi dado no âmbito do restabelecimento da credibilidade interna e externa do Estado e da implementação efectiva das disposições da Carta de Transição Política.

Apesar de assim se lançarem as novas pedras basilares de uma estabilização política e da democracia guineense, ainda persistem importantes factores de instabilidade e de marrasmos.

Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Vivemos ainda hoje, neste início do século XXI, num mundo profundamente inquietante e ao mesmo tempo repleto de promessas para o futuro. Trata-se de um mundo conturbado, marcado por constantes mudanças, por graves conflitos, tensões, divisões sociais e violências, em relação ao qual a Guiné-Bissau não constitui uma ilha isolada.

Contudo, este mundo de que fazemos parte, dispõe de importantes meios que nos permitem controlar melhor os nossos destinos e dar um outro rumo às nossas vidas, oportunidade essa que não esteve ao alcance das gerações anteriores.

A revolução técnico-científica provocou na sociedade contemporânea transformações profundas que se reflectem em todas as esferas da vida humana. A crescente importância do saber científico na gestão da economia e de outros domínios da sociedade atribui a ciência, importantes funções no desenvolvimento económico, social e cultural.

Em cada etapa concreta do desenvolvimento existem diversas tendências objectivas, e o homem tem de determinar a sua atitude para com elas, tem de fazer escolhas, isto é tem de agir. E agir significa escolher entre várias possibilidades que se colocam a nossa frente, significa criar novas condições sociais e valores, significa também criar novas premissas geradoras do bem-estar comum. E, nessa escolha o saber científico e os valores morais assumem um papel determinante.

A situação do homem nas condições do actual desenvolvimento científico e técnico e das mudanças culturais mostra que o progresso da ciência e da sociedade só é possível na base do desenvolvimento social, político, espiritual e moral da sociedade.

E é nessa perspectiva que, face aos imperativos da unidade nacional, da consolidação da nação, do Estado de direito, da cultura democrática, e da justiça social, proponho à sociedade guineense um pacto nacional, assente nestes valores. A apropriação desses valores deve basear-se numa abordagem científica dos problemas da nossa sociedade, em particular na educação e formação das novas gerações com vista à construção de um novo espírito de cidadania.

É, pois, no plano dessa realidade que me coloco, estabelecendo os principais valores sobre os quais se assentarão a minha presidência, e em relação aos quais definir-se-á o quadro institucional de referência no meu relacionamento com os diferentes órgãos de soberania.

Assim, é meu firme propósito e solene compromisso diante do povo da Guiné-Bissau e do mundo garantir a qualidade do funcionamento das nossas instituições, assim como a qualidade do relacionamento entre elas condições indispensáveis à consolidação do Estado de direito democrático e à consolidação da paz.

Respeitar e garantir o respeito da Constituição e demais leis, nomeadamente no que concerne a defesa da integridade do território nacional, do equilíbrio político-nstitucional, do desenvolvimento da cidadania e da construção do Estado de direito.

Assim, o início do meu mandato deverá ser marcado por um acto de activação de mecanismos constitucionais que permitam o conhecimento real do estado da nação quer na sua dimensão económico-financeira, quer político-institucional. Para esse efeito, é indispensável velar pelo reforço das capacidades institucionais dos órgãos encarregues dessas funções.

Em conformidade com as minhas competências de Presidente da Republica, apoiarei o Governo na realização de grandes projectos sociais, culturais e infra-estruturais, e garantirei a honorabilidade do Estado.

Quanto às relações com a Assembleia Nacional, é meu objectivo promover um quadro de relações institucionais que facilite a adopção de leis no sentido do alargamento do espaço da liberdade democrática e da modernização das instituições da Republica.

Graças a uma colaboração institucional de órgãos de soberania competentes serei o facilitador de iniciativas legislativas, não poupando os meus esforços, inteligência e experiência no sentido de desempenhar o papel de inspirador de reformas do Estado.

No que respeita ao Poder Judicial, envidarei esforços no sentido da consolidação e dignificação das suas instituições, pois essas condições são indispensáveis à construção do Estado de Direito Democrático.

Com efeito, estes pressupostos são fundamentais à eficácia da luta contra a impunidade e a corrupção, que representam grandes entraves ao desenvolvimento dos países como o nosso.

Excelências! Caros Compatriotas!

Assim como me empenhei com convicção à causa da independência, de igual modo também me dedicarei, hoje, reforçado pela experiência, e a maturidade de quem já conheceu importantes peripécias da vida, a erguer a nossa pátria, com o concurso de cada um dos seus filhos e para o benefício de cada um deles, para vencermos os grandes desafios do milénio.

As condições necessárias para vencermos os desafios do milénio determinam-se pelas tarefas essenciais do desenvolvimento e pela capacidade dos cidadãos de resolverem, o mais rápidamente possível, os problemas da paz, da estabilidade política e da justiça social, recorrendo, para o efeito, ao funcionamento dos sistemas de regras sociais geradores de consenso nacional, compatíveis com o desenvolvimento humano.

Quando se trata da questão do desenvolvimento, é fundamental resistir à tentação de seguir caminhos fáceis das respostas e receitas simplistas, pois, o cidadão deve estar no centro das preocupações do desenvolvimento.

Assim, é importante compreendermos que a nossa atitude face aos desafios do milénio requer uma confrontação entre os principais valores que têm a ver com a missão do homem na sociedade e a responsabilidade política e moral que o exercício e uso do poder político comportam.

Daí a importância de encontrarmos uma nova orientação na reorganização do Estado guineense e de privilegiar a educação e a formação estimulando a cultura de se utilizar a ciência assim como o espírito de cidadania, condições chaves para vencermos os desafios do milénio.

A definição de estratégias para a prossecução destes objectivos deve necessariamente corresponder às realidades específicas de cada espaço sócio-cultural do país, e deve-se dar prioridade, antes de tudo, à satisfação das necessidades básicas das populações.

Com efeito, as estratégias de desenvolvimento centradas nas populações deverão ser consistentes com a cultura popular envolvente. Embora o desenvolvimento acarrete necessariamente mudanças nas normas, valores, crenças e culturas, a modernização não deve constituir um obstáculo ao desenvolvimento da cultura de um povo, antes pelo contrário deve contribuir para a sua evolução interna, pois a cultura é a consciência do desenvolvimento.

Assim, é urgente encarar o desenvolvimento como um processo concebível, organizável, controlável e humano, que não depende de uma simples sorte, pois implica uma auto-confiança crescente, tanto individual como colectiva.

A base de desenvolvimento de uma nação tem de ser os seus próprios recursos, tanto humanos como materiais, plenamente utilizados para satisfazer as suas próprias necessidades.

Nesse sentido, o desenvolvimento implica, necessariamente, a liberdade política para os indivíduos como para as nações, e deve apoiar-se numa comunicação social isenta e objectiva, formativa e informativa, que possa constituir mais um pilar na indispensável reeducação para a democracia, contributo fundamental para a construção da sociedade do conhecimento.

Nesta perspectiva, a independência tem de passar a significar para os guineenses muito mais do que poder dispor apenas da bandeira, de um hino nacionais, de uma nacionalidade, de órgãos de soberania, de dirigentes autóctones, de personalidade internacional.

O estado deve responsabilizar-se perante os cidadãos individuais e as associações de cidadãos pela criação do bem-estar, da segurança social, do crescimento económico, da promoção humana, na igualdade social de oportunidades para todos e para cada um dos cidadãos.

Assim, deve garantir à mulher guineense o respeito pleno da sua integridade física e moral, bem como da sua capacidade jurídico-política e económica integral.

Garantir aos jovens e crianças guineenses um legado de paz fundado na justiça social e económica, com base na igualdade social de oportunidades.

É também fundamental renovar a humildade, a cortesia política e social, a solidariedade nacional, contra o tribalismo a discriminação racial e de género, assim como a intolerância religiosa.

Restaurar a esperança e a fé no futuro, o amor à pátria, a integridade moral e ética, a cultura democrática, o optimismo, a auto-estima e a auto-confiança.

Excelências,
Caros compatriotas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Face a esses importantes desafios, torna-se indispensável que a Guiné-Bissau acerte o passo com o mundo, respeitando as suas regras, que decorrem de progressivos consensos resultantes da evolução da consciência humana. Nesta matéria, a sobrevivência do país depende da sua capacidade de inserção no mundo, quer no plano político e económico como no plano sócio-cultural.

Por isso, um processo de reformas e modernização do Estado deverá constituir a base da nossa acção. Nessa perspectiva, essas reformas deverão ser concebidas no quadro de um amplo processo participativo com todos os actores directa ou indirectamente implicados, de molde a que o espírito das mesmas seja devidamente internalizado, permitindo, assim, uma melhor implementação das referidas reformas.

Nessa matéria, as instituições de Defesa e Segurança merecem uma atenção particular, sobretudo em virtude das difíceis condições em que trabalham.

As mesmas deverão ser dotadas de todas as suas estruturas de funcionamento, com legislação própria, por forma a cumprirem os seus deveres consagrados na constituição, em obediência ao poder político, legal e democraticamente instituído.

Em relação as nossas gloriosas Forças Armadas, gostaria de prestar-lhes uma sincera homenagem, em particular ao General Batista Tagme Na Waie, Chefe de Estado-Maior General, por um lado, em virtude das condições difíceis em que cumprem a sua missão e, por outro lado, pelos resultados já alcançados no processo de reconciliação interno em curso.

A actual dinâmica da reconciliação deve acompanhar-se de um processo de modernização das nossas Forças Armadas, adequando-as às normas próprias de uma classe castrense moderna, quer no plano estrutural, quer em termos de dispositivos legais de orientação.

Assim, para além da implementação de uma lei geral de defesa nacional, os meios materiais deverão ser disponibilizados, afim de criar condições para que, de maneira definitiva, os servidores das nossas forças armadas possam viver e exercer dignamente as suas funções.

É importante, contudo, salientar que as reformas para a modernização das Forças Armadas nunca serão em detrimento daqueles que, com abnegação, heroísmo e elevado sentido patriótico serviram as nossas gloriosas Forças Armadas libertadoras da pátria de Amílcar Cabral.

Excelências,

No plano económico, a deterioração do ambiente de negócios, a ausência de uma política coerente de promoção do sector privado empresarial a braços com problemas de atrasados internos comerciais, bem como o desequilíbrio persistente nas finanças públicas e, o peso da dívida interna e externa do Estado deverão merecer uma atenção particular do governo.

Este quadro económico encontra-se ainda mais fragilizado se tivermos em conta que vários instrumentos de política sectorial carecem de financiamento e implementação, dada a instabilidade institucional ora prevalecente.

Os instrumentos de política transversal como o Programa Nacional de Boa Governação (PNG), o DENARP, o NEPAD, o Programa Económico Regional da UEMOA, os Objectivos de Desenvolvimento para o Milénio (OMD) e outros se deparam com problemas de operacionalização.

O impacto social de um tal contexto se faz sentir negativamente através do elevado nível de pobreza, na fraca capacidade do Estado, em dar respostas adequadas às necessidades dos sectores sociais tais como a educação, a saúde, o saneamento básico, o acesso a água potável e a energia eléctrica.

A via está doravante aberta, em nosso entender, ao regresso à normalidade da vida económica e social, deveras difícil nestes últimos anos, na sequência de crises político-militares que afectaram a estabilidade política e a paz social no nosso país.

Eis a razão da nossa aposta no restabelecimento da confiança e de parcerias estratégicas do sector empresarial guineense com seus homólogos, no reforço de parcerias do Estado com as instituições internacionais assim como em relação a países considerados no âmbito bilateral no sentido da implementação dos grandes objectivos do milénio criando assim as condições de um relance definitivo na via do crescimento económico e do desenvolvimento humano.

Caros Compatriotas,
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Partindo das conquistas do passado remoto e recente da Guiné-Bissau nomeadamente no que se refere aos valores fundamentais que serviram de alicerce a construção e consolidação do nosso Estado nascido de um longo processo libertador, gostaria de assegurar-vos que, a minha acção política durante a minha presidência basear-se-á na inovação, na criatividade, na competência e na estimulação e respeito pelo princípio de competitividade na promoção dos quadros, assim como da cultura de reconhecimento do mérito e na solidariedade nacional.

Ela se assentará ainda em pilares fundamentais, a saber: a reconciliação e unidade nacionais; a paz social e estabilidade política, o encorajamento do crescimento económico e desenvolvimento humano.

No que concerne a reconciliação e unidade nacionais, partilho com todos os guineenses o sentimento profundo de que um novo arranque rumo ao desenvolvimento deve ser acompanhado pela consolidação dos pilares que acabei de mencionar, sobretudo à luz da nossa memória colectiva do passado recente.

A reconciliação nacional é um factor incontornável para a unidade de todos os guineenses. Para que ela seja efectiva, deve ser abordada do ponto de vista participativo, na base de uma cidadania responsável, do diálogo social e da concertação permanente afim de construir consensos duráveis, implicando todos os segmentos da nossa sociedade: os actores políticos, o sector privado, as organizações da sociedade civil, o poder tradicional e as instituições religiosas.

Nesse âmbito, é de louvar os esforços institucionais realizados quer pela Assembleia Nacional Popular no âmbito da sua resolução número 12, da sua Comissão de Reconciliação Nacional, quer pelas nossas Forcas Armadas a quem felicito particularmente, exprimindo por esta ocasião os meus desejos que este espírito prevaleça e seja extensivo ao resto da sociedade guineense.

Desta forma, deve constituir um desígnio nacional trilharmos o caminho da paz e da estabilidade política e institucional, restabelecendo, assim, a credibilidade das nossas instituições, e diminuir as incertezas ligadas ao futuro.

Essa estabilidade tão desejada por todos nós deve ser objecto de um seguimento permanente, através da adopção e da implementação de uma política forte assente na promoção dos mecanismos de prevenção e de gestão de conflitos.

Estes mecanismos, para nós estratégicos, devem ter uma forte componente de reforço das capacidades nacionais, para o qual o concurso da comunidade internacional é indispensável.

Nesta perspectiva, apelamos igualmente à comunidade internacional a apoiar os esforços da Assembleia Nacional Popular em matéria de prevenção e gestão de conflitos, porquanto já existe uma Comissão criada para o efeito.

Caros Compatriotas,
Ilustres convidadas e convidados,
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quando concorria à mais alta magistratura da nação guineense, interrogava-me sobre o estado actual de desenvolvimento do nosso país tanto no plano macro-económico, caracterizado por défices crónicos como em relação a situação económica estrutural. Quanto a esta última, persistem graves problemas de baixo nível de investimento público e privado com consequências negativas para o desenvolvimento humano durável.

Essa realidade nacional assim problematizada sugere o quanto se impõe, e de maneira urgente, uma reflexão profunda, a escala nacional, sobre a necessidade de uma avaliação do nível actual de competitividade da Guiné-Bissau face a sua integração no mundo em globalização.

Por outras palavras, em que condições estruturais se encontra a Guiné-Bissau para competir com outros países, no inicio do século XXI?

Que nível geral de educação necessitam os cidadãos guineenses para uma melhor assimilação de novas tecnologias?

Que capacidade de oferta de serviços de saúde dispõe o nosso país para fazer face as grandes endemias que debilitam as nossas populações, chamadas a participarem no processo de desenvolvimento?

Com que estruturas económicas e políticas, a Guiné-Bissau pode contar para a criação de um bom ambiente com vista a captação do investimento público e privado?

Eis, caros compatriotas, minhas senhoras e meus senhores, a minha visão sobre a abordagem correcta da maneira como devemos encarar as tarefas que se nos apresentam, hoje e amanhã. Ao invés de perdermos o nosso precioso tempo a combatermos uns aos outros de maneira estéril, devemo-nos esforçar para discutirmos os projectos de sociedade.

Assim, o nosso país necessita, para o seu pleno esplendor, de ser competitivo à escala da sub-região, do continente e do mundo em globalização.

Essa competitividade deve repousar num crescimento económico conciliado com o desenvolvimento humano. Para isso, ela deverá ser estimulada não só por factores políticos como a boa governação, num quadro de reconciliação nacional, de estabilidade política e paz social, mas também por factores económicos, culturais e técnico-científicos.

Em relação às nossas insuficiências em matéria de infra-estruturas económicas, não podia deixar de sublinhar o peso que constitui o estado de degradação das nossas infra-estruturas portuárias e rodoviárias, com consequências nefastas para a nossa competitividade e o custo de vida no país.

Por isso, impõe-se a realização de estudos de viabilidade com vista à uma eventual criação de portos francos no território nacional.

Excelências,
Minhas Senhoras, Meus Senhores,

Sendo o desenvolvimento humano, um dos pressupostos fundamentais para a competitividade e o crescimento económico, o mesmo deve inscrever-se numa perspectiva durável, em virtude de factores reais que o determinam, tais como a saúde, a educação, o acesso à água potável, o saneamento básico, a esperança de vida e a conservação da natureza.

Grosso modo, ele deverá ser, ao longo do meu mandato, um desenvolvimento no âmbito do qual o mais importante é ter mais serviços culturais, mais centros de saúde, mais escolas, mais centros de lazer para as crianças e os jovens, ou seja, ter uma melhor qualidade de vida.

Diria ainda que, para colmatar o défice de desenvolvimento humano de que padece o nosso país há que procurar um equilíbrio entre as vantagens da exploração dos recursos naturais e a realização do bem-estar social e cultural das populações locais.

Nessa perspectiva de conciliar o desenvolvimento com a conservação da natureza as acções nesse âmbito, deverão ser condicionadas, por um lado, a um prévio conhecimento dos impactos ambientais, e por outro lado, a uma mudança de visão que se baseia no princípio de precaução.

Por outras palavras, os objectivos de preservação dos stocks e de eficácia económica cedem progressivamente lugar ao objectivo de preservação dos ecossistemas, no quadro alargado do desenvolvimento durável que deve assegurar o crescimento económico e a melhoria das condições de vida das populações.

Caros Compatriotas,
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

No plano externo, a intensificação da cooperação com as organizações regionais, designadamente com a União Africana, a CEDEAO, e a UEMOA e com outras organizações internacionais como a CPLP, a União Europeia, a Organização Internacional da Francofonia, a ONU, deve merecer doravante especial atenção da diplomacia guineense.

As reformas que fortaleçam a solidariedade entre os Estados, que incrementem o investimento no desenvolvimento, que aumentem a autoridade, a eficácia e a capacidade das Nações Unidas para fazer face as novas ameaças e desafios mundiais serão energicamente apoiadas pela diplomacia do nosso Estado.

A União Africana e a CEDEAO podem contar com a minha resoluta determinação em aumentar os nossos esforços para que as mesmas possam ser dotadas de meios e mecanismos tendentes a prevenir os conflitos, a resolução pacífica de diferendos, a manutenção e consolidação da paz e reconstrução pós-conflito.

O terrorismo internacional, o comércio de armas ligeiras e da droga, a erradicação das minas merecerão um cuidado e sistemático acompanhamento da minha parte, propondo ao governo a adopção de medidas concertadas com os nossos parceiros internacionais.

Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Se, por um lado, a globalização tem representado mais benefícios para alguns países do que para outros, a verdade é que esta diferença deve-se a desigualdades em termos de competitividade.

Para retirarmos maiores benefícios da nossa integração na União Africana, CEDEAO, UEMOA, OMVG temos que aperfeiçoar o nosso Estado, tornando-o mais eficiente, melhor organizado, capaz de conduzir, a longo prazo, políticas económicas e sociais de qualidade, que assegurem a estabilidade macro-económica e a realização dos objectivos do Milénio. Isto seria um factor catalizador de iniciativas privadas no âmbito da promoção de acções económicas para o desenvolvimento.

Permitam-me assim, lançar um apelo à comunidade internacional para que dispense uma apropriada assistência, através da injecção de maiores fluxos de capitais para a realização das infra-estruturas preconizadas nos planos de integração do NEPAD, CEDEAO, UEMOA/PER, OMVG, particularmente nos domínios de transportes, energia, hidráulica, telecomunicações.

A implementação destes planos permitiria, assim, a melhoria dos acessos aos serviços de educação, saúde, água potável, comunicações, micro-finanças e ambiente.

Para a realização das nossas ambições de desenvolvimento, devemos prestar uma atenção particular, a questão da redução substancial e progressiva das medidas proteccionistas que ainda caracterizam as políticas económicas dos países industrializados, particularmente no domínio da comercialização dos produtos agrícolas. Para isso há que continuar a defender, no quadro das negociações da OMC uma maior abertura dos mercados desses países aos produtos tanto agrícolas como manufacturados provenientes do continente africano, em geral, e da nossa sub-região, em particular.

Caros Compatriotas
Minhas Senhoras e Meus Senhores

Devemos preparar o país às necessidades básicas da população e para ser competitivo face aos desafios actuais de desenvolvimento, devemos muni-lo de dispositivos em todas as esferas da sua vida permitindo a sua inserção útil e equilibrada nos diferentes projectos sub-regionais, africanos e à escala internacional em geral.
Refiro-me a nossa acção global rumo ao desenvolvimento tendo os nossos compromissos no quadro dos objectivos da UEMOA, da nova visão do desenvolvimento da África que é o NEPAD, e finalmente em relação a nossa integração no grande comboio da mu.

Nessa perspectiva, a acção política da Guiné-Bissau no exterior, sob a minha presidência estará animada certo, pelo respeito da independência dos Estados mas em estrita obediência da realidade de interdependência das nações.

Assim o actual clima de diálogo no quadro da CEDEAO e UA deve aprofundar-se cada vez mais no sentido do desenvolvimento frutuoso de uma consciência africana comum em beneficio da democratização e estabilização crescente dos nossos países.

Gostaria, neste momento solene, de assegurar-vos que tudo farei no quadro institucional, para que a nossa querida Guiné-Bissau seja uma referência de democracia, onde impera a paz, a estabilidade, a justiça social e o progresso.

Termino assim esta minha intervenção, endereçando os meus sinceros agradecimentos à toda a comunidade internacional pelo seu apoio material, financeiro, político, diplomático e moral para o coroar de sucessos deste período de transição política na Guiné-Bissau, Pátria de Amílcar Cabral.

O meu especial muito obrigado à CEDEAO, na pessoa do seu Presidente em exercício, Senhor Mamadú Tanja, à UEMOA, representada pelo Presidente da Comissão, Sumaila Cissé, à União Africana, na pessoa do Presidente Olusegun Obasanjo, à CPLP, presidida em exercício pelo Presidente Fradique de Menezes, ao decano dos Chefes de Estado dos PALOP’s, o Presidente José Eduardo dos Santos, à União Europeia, representada pelo seu Presidente da Comissão, Senhor Durão Barroso e às Nações Unidas, na pessoa do seu Secretário-Geral, Senhor Koffi Annan, pelo papel desempenhado por estas organizações e pelo empenho pessoal destas ilustres personalidades em favor da paz e do desenvolvimento na Guiné-Bissau.

À todas aquelas e aqueles que, por razões de espaço físico, não puderam estar presentes neste acto solene da minha investidura, um sentimento particular de apreço, e um profundo agradecimento pela amizade que manifestaram para comigo.

A todos vós, o meu muito sentido obrigado.

Viva a República da Guiné-Bissau



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