terça-feira, agosto 23, 2005

Guiné-Bissau: aspectos da vida de um povo (2/15)

por Eva Kipp, 1994

A ARTE DE BIJAGÓS

Segundo uma antiga lenda bijagó, a vida começou assim: Deus, o Criador, existiu sempre e, no início da vida, foi criada a primeira ilha - a ilha de Orango - que era o mundo.

Mais tarde, chegou um homem e a sua mulher, de nome Akapakama. Eles tiveram quatro filhas a que deram os nomes de Orakuma, Ominka, Ogubane e Oraga.

A seguir surgiram os animais e as plantas.


A ilha de Canhabaque, nos Bijagós.

Cada uma das filhas de Akapakama teve, por sua vez, vários filhos, os quais receberam por parte do avô direitos especiais.

Os de Orakuma, receberam a terra e a direcção das cerimónias nela realizadas, bem como o direito de fazer as estatuetas do Irã, tendo sido a primeira executada por Orakuma e feita à imagem do Deus. Este direito seria também dado por Orakuma às suas irmãs.

Os de Ominka receberam o mar e passaram a ocupar-se da pesca. Os de Oraga receberam a natureza com as bolanhas e as palmeiras, o que lhes daria a riqueza.

Os de Ogubane receberam o poder da chuva e do vento podendo desencadeá-los, controlando assim o suceder das épocas, da seca e das chuvas.

Assim, as quatro irmãs desempenhavam funções diferentes mas que se complementavam.
Esta é a razão que, segundo a lenda, explica o papel muito importante que as mulheres desempenham na sociedade bijagó. Elas ainda hoje têm direitos especiais, tais como a construção das casas e a realização de cerimónias próprias. E ainda o das raparigas, segundo os Bijagós, em que reincamam as pessoas que morrem na família e no clã.


Pescador com rede em Canhabaque.


À esquerda: Mané Trubala, escultor de colheres na tabanca de Enen. À direita: a estatueta do Irã Grande Orebok Ocotó de Bubaque.

Tal como em outras sociedades, a arte bijagó está estreitamente ligada à religião. A representação dos Irãs encontra especial relevo na escultura em madeira, a qual se alarga à representação de outras cenas da vida quotidiana e à produção de objectos de uso comum.

Hoje, só os homens podem ser escultores, mas nota-se já uma diminuição dos que se dedicam a esta actividade, o que faz com que existam poucos escultores com autoridade para executar as estatuetas dos Irãs.

Em princípio não há condição especial para que um homem se tome escultor. A aprendizagem é feita junto de um outro escultor já famoso e pode-se começar essa aprendizagem com qualquer idade.

Nas ilhas onde há muitos escultores alguns especializam-se num determinado tipo de trabalho.


Mãe bijagó com a filha.


Rapariga bijagó contando dinheiro.


Rapaz que vai ao fanado: escultura de Tcharte.


Mulher bijagó construindo a casa.


Barco bijagó: estatueta de Bubaque.

Com o aumento da procura de artesanato local, há muitos jovens que começam a interessar/e de novo pela escultura com objectivos comerciais, nomeadamente de estatuetas representando mulheres, barcos e actividades laborais.

Isto acontece principalmente na ilha de Bubaque, onde já começam a surgir escultores especializados num tipo de trabalho, como Mané Troebala que só faz colheres.

Nas outras ilhas, como Orango e Canhabaque, a arte continua a estar bastante associada ao modo de vida da população bijagó. No entanto, a sua comercialização tem conduzido a que, por vezes, as estatuetas dos Irãs tenham sido tiradas dos santuários para serem vendidas.

Em Angumba, na ilha de Canhabaque, não há muitos escultores e isso faz com que Ompane, um dos mais conhecidos, execute hoje todo o tipo de trabalho. Para além das estatuetas de Irãs Grandes, ele faz também estatuetas de mulheres, objectos de uso comum e ornamentos que são utilizados nas danças locais.



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