segunda-feira, agosto 22, 2005

Guiné-Bissau: aspectos da vida de um povo (3/15)

por Eva Kipp, 1994

OMPANE - ESCULTOR DE CANHABAQUE

Ompane é um dos escultores que podem fazer estatuetas do Irã Grande. Essas estatuetas são feitas por encomenda do régulo, ou de outra pessoa a quem a sociedade autoriza a sua posse, e a respectiva execução obedece a um determinado ritual, dado que se trata de um objecto sagrado.


À esquerda: Ompane, escultor em Angumba, Canhabaque, realiza uma cerimónia no seu santuário. À direita: Ompane com as ferramentas e os objectos sagrados, indo para a floresta.

Em primeiro lugar, Ompane faz uma cerimónia para apresentar ao Irã a pessoa que fez o pedido. Posteriormente, também através de uma cerimónia, ele pede ajuda ao Irã para a execução, bem como autorização para cortar a árvore especial a utilizar para o efeito.

Nessas cerimónias os espíritos são chamados através do tilintar de campainhas e ele oferece aos mesmos aguardente de cana, lançando-a sobre as estatuetas que representam os Irãs.


Início da escultura: o chapéu.


No fim da primeira sessão de trabalho.


As ferramentas: o machado e a catana.

Para iniciar o trabalho na floresta, Ompane leva consigo, para além das ferramentas, objectos sagrados, aguardente de cana e tabaco para as cerimónias que ainda tem de realizar ao longo do trabalho.

Uma vez detectado na floresta o Acum, nome pelo qual é conhecida a árvore na qual se podem incarnar os Irãs, Ompane realiza mais uma cerimónia antes de dar início ao abate da árvore. Nessa cerimónia ele utiliza a estatueta do Irã Grande que trouxe, bem como outros objectos sagrados e a aguardente de cana.

Para iniciar a cerimónia ele dá pancadas na árvore e faz o chamamento do Irã. Ele nunca inicia o corte sem realizar esta cerimónia, caso contrário podem acontecer coisas estranhas. Recorda-se que uma vez não a efectuou e, quando começou a cortar a árvore, caiu-lhe água em cima proveniente da mesma, sem que houvesse razão
para isso. Era uma manifestação de desagrado do Irã.

Ao longo do corte Ompane ainda faz, no intervalo do trabalho, ofertas de aguardente de cana ao Irã para que o mesmo continue a ajudá~lo.


Ompane faz os olhos do Unikan Orebok.

Uma vez derrubada a árvore, separa o pedaço do tronco necessário à execução da estatueta.

Para cortar o tronco à medida Ompane utiliza a estatueta do Irã grande que traz com ele e, medindo com a palma da mão, define o tamanho que precisa.

O trabalho de corte é duro e como Ompane trabalha sem desenho prévio ele deve calcular bem o tamanho do pedaço de tronco a cortar. Se o pedaço for pequeno demais, terá que repetir todo o processo.

Esta tarefa é cansativa para Ompane pois ele não é novo, tendo cerca de 55 anos.

Apesar de fazer estatuetas desde criança, Ompane só aos 30 anos e após o fanado, é que se decidiu pela profissão de escultor.

Todo o trabalho de aprendizagem foi feito à custa da observação do trabalho dos outros, porque ele não teve quem o ensinasse.

Ao iniciar a execução da estatueta, Ompane começa pelo topo da figura, esculpindo o chapéu em primeiro lugar.


Ompane na cerimónia antes do abate da árvore.

Os instrumentos que utiliza são o machado e a catana.

Ao fim do primeiro dia de trabalho já se conseguem ver o chapéu e a cabeça e, antes de se retirar, ele coloca em volta da estatueta uma folha de palmeira com o objectivo de evitar que a madeira rache.

Ompane só abandona o local de trabalho à noite, para dormir, fazendo as suas refeições nesse mesmo local.

Na finalização da estatueta ele também utiliza um cinzel e um pau como martelo para esculpir os pormenores.

A estatueta do Irã que ele fez desta vez chama-se Unikan Orebok e vai ser utilizada para curar pessoas através da intervenção desse Irã.

A elaboração da estatueta deste Irã não exige procedimentos muito complicados, mas tal não é o caso de outros, como o Orebok Ocotó, por exemplo.



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