sexta-feira, agosto 19, 2005

Guiné-Bissau: aspectos da vida de um povo (14/15)

por Eva Kipp, 1994

OS «MOUROS» - SACERDOTES MUÇULMANOS

Nas etnias islamizadas da Guiné-Bissau a religião está no centro da organização da vida social. A mesquita, a peregrinação a Meca para a obtenção do título de El Hadj e o jejum por altura do Ramadão, estão presentes na vida diária do crente muçulmano guineense. Para os mais novos, a aprendizagem dos versículos do Corão em escolas religiosas criadas para o efeito, marcam uma fase importante da sua infância.

É por essas escolas corânicas que se inicia a criança que mais tarde irá ser um mouro. Ela tem de ser originária de uma família que tenha tradicionalmente «mouros» e que, através das gerações, vá dando continuidade a essa tradição.


O "mouro grande" da tabanca de Combor.


Mulher grande vai para a palhora, no terreno da mesquita, para rezar.


Homem entra na mesquita da tabanca de Combor.

Primeiramente ela deve fazer os dois níveis que compõem a escola corânica, em que a criança memoriza, através da repetição cantada, os versículos e aprende a escrever os mesmos em curiosas tábuas que fazem lembrar as que, segundo a Bíblia cristã, continham os dez mandamentOs. Posteriormente, os que têm meios para isso ou conseguem obter bolsas de estudo para o efeito, vão para um país islâmico aprofundar os estudos religiosos e os outros prosseguem a sua aprendizagem com um «mouro» já conceituado.


A reza na mesquita de Combor.


Mulher grande de Empada vestida para ir à mesquita.

O «mouro» desempenha um papel multifacetado nas etnias muçulmanas, chegando muitas vezes a ser solicitado por crentes de outras confissões religiosas. Os mais famosos reúnem em si o filósofo, o conselheiro familiar e político, o curandeiro e a autoridade religiosa. Normalmente são - como o famoso «mouro» de Cambor - homens de idade que, aos conhecimentos adquiridos nos diversos domínios, aliam uma larga experiência de vida.

Fica-se deleitado ao ouvi-los discorrer sobre o mundo e os homens através de uma linguagem cheia de imagens e de parábolas que, por vezes, um desconhecedor da realidade guineense não consegue entender completamente.

Quando surgem problemas de carácter político ou familiar é aos «momos grandes» que os «homens grandes» da tabanca recorrem para serem aconselhados sobre as melhores soluções para os mesmos.

Outros «mouros» são conhecidos pelas suas qualidades de cartomantes, prevendo o futuro ou encontrando explicações para o que não se consegue explicar.


Mulher grande beafada.


Mulher grande da tabanca de Saja.


Homens numa festa fula.


Músicos tocam num casamento fula.


À esquerda: Aminata, mulher beafada de Empada. À direita: trecho do Corão usado para proteger pessoas.

Normalmente associada a esta actividade está a de curandeiro, em que o Islão apresenta práticas que encontramos também nas etnias animistas. As doenças são causadas sempre por espíritos maus e, sendo assim, ao uso de plantas medicinais tradicionais é associada uma mezinha, elaborada com base em versículos do Corão escritos num pequeno pedaço de papel que o paciente deve ter sempre consigo num pequeno invólucro.


Padre à espera dos homens grandes.


Mouro escreve um texto do Corão numa tábua.


Mulher fula.



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