segunda-feira, abril 25, 2005

Balantas contra balanta

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 25 Abr 2005

Ameaças ao líder do Comité Militar preocupam diplomatas

A comunidade internacional manifestou hoje "preocupação" face a alegadas ameaças e intimidações de que o presidente do Comité Militar guineense, B'Tchofla Na Fafé, tem sido alvo nos últimos dias por parte de políticos e militares.

Diplomatas acreditados em Bissau, que solicitaram o anonimato, indicaram terem sido já contactados por várias chefias militares, que não nomearam, sobre o receio de que aconteça "qualquer coisa" a Na Fafé, posto sábado em causa num comunicado do "Movimento Kumba Presidente".

No documento, o movimento da sociedade civil que pretende ver Kumba Ialá novamente na presidência guineense teceu duras críticas a Na Fafé, acusando-o de, em declarações feitas sexta-feira, ter "ferido as sensibilidades de grande parte" da base de apoio do ex-chefe de Estado, numa alusão à etnia Balanta.

"Os simpatizantes e apoiantes (de Kumba Ialá) aperceberam-se de não ter tido a solidariedade de um entre os seus (Na Fafé é igualmente Balanta) e, mais ainda, de um dos balantas que golpearam balantas a 14 de Setembro de 2003", dia do golpe de Estado que destituiu o regime do ex-presidente (2000/03).

Na Fafé, que tem estado incontactável, foi indigitado líder do Comité Militar após a morte do seu antecessor, general Veríssimo Correia Seabra, assassinado no "Quartel-General" durante a insubordinação militar de 6 de Outubro de 2004.

Segundo os diplomatas, as ameaças começaram sexta-feira, dia em que Na Fafé, numa inédita conferência de imprensa, negou ter elaborado ou assinado qualquer carta dirigida ao Tribunal Regional de Bissau (TRB), em que 14 dos 20 actuais membros do Comité Militar admitiram que a renúncia de Kumba Ialá, na sequência do golpe de Estado de Setembro de 2003, foi feita sob coacção das Forças Armadas.

Na ocasião, o líder do Comité Militar pôs em causa a veracidade das assinaturas, sugerindo implicitamente que eram falsificadas e dando a entender que havia uma divisão no seio das Forças Armadas numa altura em que está em curso um processo de reconciliação nacional.

Entre os nomes cuja assinatura figura na carta enviada ao tribunal constam os do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general Tagmé Na Waie, no estrangeiro há mais de uma semana, e do Chefe do Estado-Maior da Marinha (CEMM), capitão-de- fragata José Américo Bubo Na Tchuto.

Hoje, vários diplomatas confirmaram à Lusa que Na Fafé, que, por inerência de funções, é também o líder do Conselho de Estado, órgão consultivo do Presidente da República, está a ser confrontado com divisões na hierarquia militar.

Entretanto, várias fontes militares escusaram comentar o assunto. Por seu lado, fontes da Presidência da República guineense não confirmaram mas também não desmentiram as alegadas ameaças a Na Fafé.

A carta era uma resposta a uma citação do tribunal, que pedia esclarecimentos ao Comité Militar sobre os argumentos que Kumba Ialá apresentou para justificar a impugnação da carta de renúncia.

Sem uma decisão favorável do Tribunal Regional de Bissau, Kumba Ialá fica legalmente impossibilitado de se apresentar às presidenciais, uma vez que a renúncia pressupõe, constitucionalmente, a incapacidade de o renunciante concorrer às duas votações seguintes.

No caso de Kumba Ialá, a renúncia, confirmada depois pela Carta de Transição Política (CTP, mini-Constituição que vigora em paralelo), prevê que o ex-presidente não pode exercer actividades político-partidárias nos cinco anos subsequentes, isto é, até Setembro de 2008.

A actual crise política, que está a estender-se paulatinamente às Forças Armadas, está já nas páginas dos principais órgãos de comunicação social guineenses, que têm apelado, em sucessivos editoriais, ao diálogo entre todos os actores do país.

Exemplo disso é o editorial que é manchete na última edição do "Diário de Bissau", em que, pela primeira vez em 15 anos, o jornal independente "roga" a todos os guineenses que "juntem esforços para um diálogo frutuoso e patriota", pedindo-lhes ainda para pensarem num futuro do país "sem ódio, vingança e armas".

"Há que combater, a todo o custo, a maldade que invadiu os políticos e governantes, exímios na criação de conflitos artificiais que acabam por se transformar em autênticos obstáculos à tranquilidade social e à paz. O país está farto da mediocridade e de oportunismos políticos de baixo nível", lê-se no editorial, que alerta: "O país caminha, seriamente, para mais uma confusão, cujas consequências, de momento, ninguém pode prever. Por favor, dialoguem, meus senhores, antes que seja tarde".



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