domingo, março 20, 2005

Guinéus (2/16)

SIGNIFICADO DE PALAVRAS, EXPRESSÕES DE USO LOCAL
E FALARES CRIOULOS INCLUíDOS NO TEXTO


BAGA-BAGA - formiga de grande poder destruidor que corrói lentamente as árvores do mato e o madeiramento das construções Salalé. Formiga branca. (Crioulo)

BENTÉM (ou BENTABA) - estrado feito de troncos ou bambús localizado à sombra de árvores. Ponto de reunião nas povoações autóctones. (Dialectos fula e mandinga)

BICUDA - peixe lúcio muito abundante no mar e rios de água salgada da Guiné e que sobe os rios para desovar. Muito voraz. Barracuda. (Termo local)

BINDÉ - arado gentílico usado pela tribo balanta para lavrar os terrenos em que cultiva o arroz. (Dialecto balanta)

BISSILÃO - árvore que atinge grande porte e fornece a madeira conhecida por «mogno da Guiné». (Termo local)

BLUFO - rapaz da tribo balanta. (Termo balanta muito vulgarizado)

BOLANHA - planície ou terrenos baixos, alagáveis, quando das grandes chuvadas e aonde se cultiva o arroz. (Termo local)

BOMBOLOM - instrumento musical, de pancada, de que o nativo se serve para transmissões de aldeia para aldeia, e que se ouve a grande distância. Telégrafo gentilico. (Crioulo)

BUSHEL - medida citada vulgarmente na província, num hábito proveniente de contactos com os comerciantes ingleses, há alguns séculos, quando impunham a medida ao nativo. Alqueire.

CABAÇO - recipiente feito com metade da casca de fruto cucurbitáceo em forma de abóbora redonda, de muito uso na lide doméstica da mulher nativa. As mais ovalizadas, de casca inteira e ocas, servem de vasilha para óleo de palma ou vinho extraído das palmeiras.

CABEÇA-DE-MORANÇA - Chefe de família. Hierarquia no clã tribal. A morança é constituída pelas habitações do agregado familiar dentro de uma povoação. (Crioulo)

CACHO (ou CACHO-CALDEIRÃO) - pássaro-tecelão muito abundante na Guiné. Constrói o seu ninho no meio de grande chilreada com finas tiras de capim hàbilmente entretecidas. Agrupam-se por vezes milhares de ninhos numa só árvore dando, ao longe, o aspecto de uma árvore carregada de frutos. (Crioulo)

CAMPANHA - conjunto de esforços no período de compra do amendoim e outros produtos tropicais. (Termo local)

CAMPUNE - rapariga, no dialecto bijagó. Perde essa designação após o casamento.

CANGRA - corruptela da palavra cangar que significa estrutura de paus que suportam o colmo das palhotas. (Crioulo)

CANHACO - arma ofensiva feita de comprida haste com extremidade de ferro, aguçada. Arpão. (Dialecto bijagó)

CARENTIM - espécie de esteira, feita de bambú, empregada em coberturas, vedações e paredes de habitação. (Crioulo)

CARRINHA - nome dado às furgonetas. Viatura de transporte.

CHÃO - terra de naturalidade. Território.

CHABÉU - fruto da palmeira dendêm. Amêndoa oleaginosa que fornece o azeite vermelho usado na alimentação diária do nativo. (Crioulo)

CHORO - cerimónia de lamento por morte de alguém e que serve de pretexto para danças, toques de tambor e comezainas. Bacanal gentílica. (Crioulo)

CIBE - palmeira que atinge grande altura. Tem frutos (cocos) que o nativo consome nos periodos de escassez de alimentos. Madeira fibrosa com muita aplicação local na estrutura de pontes e na construção civil. (Crioulo)

«COITADO» - expressão que significa pobre, infeliz, desgraçado. Exemplifica a pessoa que não possui haveres e é, como no dizer do povo, um «pobre diabo». (Crioulo)

DONDOM - pequeno tambor. (Crioulo)

«FALAR MANTANHAS» - frase que significa apresentação de cumprimentos. Os nativos dão muita importância a este acto de educação num curioso diálogo que manifesta interesse em saberem, mutuamente, se tudo corre bem. (Crioulo)

FOTAN ~ apito de bambú que os caçadores fulas usam para chamamento dos hipopótamos. O som, no dizer deles, tem influência decisiva para que os mamiferos venham à superficie das águas ou saiam de qualquer esconderijo ribeirinho onde estejam a pastar, ou em repouso. (Dialecto fula)

FRITAMBÁ - pequeno antilope. Cabra selvagem com pelagem cor de laranja sujo. Abunda no mato pouco denso. (Crioulo)

FULL - grande pote de barro aonde os balantas guardam o arroz das suas colheitas. Despensa. É possível que este termo seja de origem inglesa tendo em conta as expressões britânicas full cargo que significa carregamento completo ou full ledger que corresponde a completo, carregado. É conhecido que nos falares de alguns povos africanos existem muitos termos oriundos da língua dos povos colonizadores. E os ingleses andaram a comerciar muito pela Guiné no intento subtil de conquista... (Dialecto balanta)

FUNDO - gramínea de rotação empregada na alimentação, especialmente entre os mancanhas. (Crioulo)

FURADORES DE VINHO DE PALMA - expressão local que designa a profissão dos naturais que se dedicam à extracção do suco das palmeiras dendêm, suco que entra ràpidamente em fermentação e que adquire logo o nome de «vinho de palma» para consumo imediato.

GATO-LAGAR - gato selvagem, carnívoro. Pelagem malhada um tanto semelhante à do leopardo. Abunda na Guiné. (Crioulo)

GILA - contrabandista oriundo do território francês que se dirige à Guiné Portuguesa para permutar ou vender. (Palavra francesa)

GUARDA-DE-CORPO - objecto ou mezinha a que o nativo dá muita importância, atribuindo-lhe o poder de desviar malefícios, evitar doenças e desastres. Amuleto em forma de pequena bolsa de couro usado nas raças islamizadas e que contém mezinhas, feitiços ou versículos do Corão. Talismã que «dá sorte». (Crioulo)

HOMEM-GRANDE - pessoa idosa, respeitável. Hierarquia máxima nas sociedades gentílicas, logo abaixo dos régulos ou dos chefes de povoação. (Crioulo)

INCORLÚ - ave noctívaga que abunda na região.

IRÃS - árvore, animal, manipanso ou objecto tornado divindade que na superstição nativa tem um poder mágico. «Tem irã» significa ter poder sobrenatural que é preciso respeitar e temer. Ídolo africano. Fetiche. (Crioulo)

KORÁ - instrumento de cordas usado por mandingas, fulas e biafadas, de origem árabe. A caixa de ressonância é feita de uma metade de casca de abóbora grande, redonda, forrada de pele. As cordas eram feitas, primitivamente, de tiras excepcionalmente finas de tripas de certos animais. Instrumento vistoso. (Dialecto mandinga)

LALA - planicie onde cresce o capim. Nas que se situam perto do curso dos rios ou no litoral e que retêm a água das chuvas, faz o nativo as lavras para a cultura do arroz, passando automàticamente, a ter, o nome de «bolanha». (Termo local)

«LAVA-REMO» - expressão crioula que designa gratificação a dar por qualquer serviço. O natural, por coisa minima que faça, a pedido ou ordem doutro, nunca deixa de pedir o seu «lava-remo», ou seja: gorjeta. (Crioulo)

LONGA - arma de guerra ou de caça, de fabrico grosseiro e sistema de carregar pela boca. «Brinquedo» apetitoso para qualquer autóctone. O conhecido «canhangulo» de Angola. (Termo local)

MÁ-FÉ (ou MÁFE) - o conduto na alimentação nativa. Acompanhamento constituido por carne, peixe ou óleo de palma. A «má-fé» ou «máfe» representa um pequeno luxo no dia-a-dia do nativo, cuja alimentação é pobre por se limitar quase sempre ao arroz, muitas vezes sem algo a enriquecer a refeição. (Crioulo)

MALILA - braceleta feita de fibras vegetais com que o balanta enfeita os pulsos e artelhos. Pulseira. (Dialecto balanta)

MANCARRA - nome que se dá na Guiné ao amendoim. Principal oleaginosa da exportação provincial. Cultivam-na os fulas, mandingas, manjacos, mancanhas e biafadas. (Termo local)

MANTANHAS - cumprimentos. (ver «falar mantanhas»). (Crioulo)

MATXUBÉ - cativo negro (a que chamam vulgarmente «judeu») ao serviço das aldeias, cuja missão é divertir os outros com toques de pandeireta, tambor e apito e que, enquanto se movimenta no terreiro, faz esgares, mimica e gestos por vezes cómicos que são motivo de passatempo alegre para os espectadores. Truão. Bobo. (Dialecto mandinga)

MORANÇA - conjunto de habitações de um agregado familiar. (Ver «cabeça-de-morança»). (Crioulo)

MOUROS - padres muçulmanos, missionários do maometanismo entre as raças animistas da Árica Negra.

NHANHÉRU - Instrumento musical dos fulas e mandingas, semelhante ao violino.

PESO - um peso é o mesmo que um escudo. Esta designação usada pelo nativo é também muito corrente entre os metropolitanos radicados na Guiné. Uma reminiscência da dominação espanhola nos séculos XVI e XVII que ampliou a sua administração à actual Guiné Portuguesa, aonde mandava os seus barcos negreiros arrancar braços para a agricultura da América Espanhola. A Espanha, nessa época, adoptou o «peso» nas colónias africanas e nas conquistas do continente americano, como por exemplo no México, Paraguai, Uruguai, Chile e Argentina. (termo local)

PONTAS - propriedades de comerciantes e agricultores civilizados espalhados pelo território guineense. A origem do nome vem do falar português da época das descobertas, quando da instalação de pequenas feitorias comerciais localizadas preferentemente nas extremidades do território, na parte litoral ou nas margens dos rios e esteiros navegáveis para as caravelas. Intenção de tornar mais económico o seu comércio de «resgate» com os povos aborígenes e mais como medida preventiva de defesa contra as constantes arremetidas de guerra dos nativos. (termo local)

PONTEIROS - os proprietários das «pontas».

PROROCA (na Guiné, MACARÉU) - fenómeno que se regista na foz do rio Corubal, idêntico ao que se verifica nos rios Sena, Ganges e Amazonas. Corrente de um rio que sendo muito forte para dominar as marés vulgares é contudo impotente para vencer a pressão das grandes marés. Do facto, do choque, rompem vagas enormes que sobem o rio com grande força e ruído. (Proroca é um termo brasileiro)

SABADORA - peça principal do vestuário dos autóctones maometanos. Amplo, de grandes mangas, e preferentemente branco. Também denominada camisa, cabaia ou balandrau. (Dialecto mandinga)

SIGUÊ - feiticeira tribal, hoje um tanto desprestigiada e em desuso (Dialecto balanta)

TABANCA - povoação nativa. (fermo local)

TANTÃS - nome genérico dos tambores africanos. Instrumento de pancada. Um dos mais antigos instrumentos conhecidos.

TARRAFE - vegetação que ladeia as margens dos rios e esteiros. Da sua casca extrai-se tanino para várias aplicações industriais. (termo local)

TERÇADO (ou TRAÇADO) - espada de folha larga e curta, usada quase permanentemente pelo nativo como ferramenta para trabalho de derrube no mato, na conquista de clareiras para agricultura ou na extracção de madeira para as necessidades das povoações. A «catana» de Angola. (fermo local)

«TRABALHO CANSADO» - expressão crioula, que é um lamento ou desculpa esquiva quando lhes é sugerido ou determinado qualquer trabalho que implique dispêndio demorado de forças.

TSÉ-TSÉ - mosca, cuja picada, quando infectada, é a origem de definhamento e grande mortandade nos animais domésticos e que inocula no homem a doença do sono. Conhecida na Guiné por «mosca-brava».



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