domingo, outubro 03, 2004

UNOGBIS fica contra a vontade do Presidente

1. Origem do documento: Panapress, 02 Out 2004

Novo representante da ONU recebido pelo Primeiro Miniostro

Bissau, Guiné-Bissau (PANA) - O novo representante do secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, o moçambicano João Bernardo Honwana, disse que a organização mundial iria manter o seu apoio ao processo de consolidação da paz neste país da África Ocidental, soube-se de fonte oficial em Bissau.

João Honwana, que falava a imprensa no final duma audiência com o primeiro-ministro guineense Carlos Gomes Júnior, disse que agora terá que analisar a forma como o Gabinete das Nações Unidas na Guiné-Bissau (UNOGBIS) vai articular-se com o governo guineense para atingir este objectivo.

"As prioridades mantêm-se e não mudaram. Vamos apoiar os esforços da Guiné-Bissau e das suas autoridades para a consolidação da paz. Falta é definir as formas concretas para executarmos essas prioridades", sublinhou Honwana, que substituiu o britânico David Stephen, cuja missão terminou em Abril último.

O representante de Kofi Annan na Guiné-Bissau escusou-se, contudo, a comentar o actual momento político no país, limitando-se a reafirmar que as Nações Unidas têm estado a acompanhar "com esperança" a evolução da situação.

"Do ponto de vista da comunidade internacional, é indiscutível que acompanhamos com esperança o progresso que já se fez nos últimos meses e estamos aqui, na Guiné-Bissau, para garantirmos que esse progresso continue", afirmou Honwana.

João Bernardo Honwana é especialista em questões de defesa e segurança, tendo já desempenhado altos cargos, a esse nível, em Moçambique e na Organização das Nações Unidas.

Antes da sua indigitação para representante do secretário-geral da ONU na Guiné-Bissau, Honwana, coronel na reserva da Força Aérea moçambicana, chefiava a Unidade das Armas Convencionais no Departamento das Questões de Desarmamento das Nações Unidas.

A UNOGBIS foi criada em 1999 a pedido do então Governo de Unidade Nacional (GUN), na sequência do conflito militar de 1998/99, que pôs termo a 18 anos de regime do ex-Presidente João Bernardo "Nino" Vieira.

2. Origem do documento: Notícias Lusófonas, 01 Out 2004

Presidente diz que o Gabinete da ONU já fez o seu trabalho e que devia sair

O presidente guineense defende numa entrevista divulgada em Bissau que o Gabinete das Nações Unidas para a Guiné-Bissau (UNOGBIS) deve terminar, visto que o clima que levou à sua criação "já está ultrapassado".

Na entrevista concedida à Rádio das Nações Unidas, com sede em Nova Iorque, hoje publicada na íntegra no semanário guineense Gazeta de Notícias, Henrique Rosa sublinha que o prolongamento da UNOGBIS deixa pressupor que o país ainda não está estável.

"Portanto, vai acabar o mandato e não será renovado", sublinhou Henrique Rosa na entrevista, efectuada ainda em Nova Iorque, três dias depois de o novo representante especial do secretário-geral da ONU, o moçambicano João Bernardo Honwana, ter chegado à Guiné-Bissau para chefiar a UNOGBIS durante um ano.

"É minha vontade e convicção do governo de que assim seja. A nível das Nações Unidas, o próprio secretário-geral também tem este sentimento", afiançou o chefe de Estado guineense, que, à margem da Assembleia-Geral da ONU, foi recebido em audiência por Kofi Annan.

Sublinhando que a actuação das Nações Unidas tem sido "positiva", pois "foi, "até aqui, necessário", Henrique Rosa defendeu, contudo que as restantes agências da ONU em Bissau, ao contrário da UNOGBIS, devem permanecer.
"(A presença da ONU em Bissau) É muito importante, pois todas as suas agências têm dado um apoio, muito meritório, de assistência e resposta às carências e às necessidades básicas que o povo tem tido", sustentou.

Questionado pela Rádio das Nações Unidas sobre o último relatório da ONU sobre a Guiné-Bissau, em que se elogia a evolução política mas se adverte para a persistência de focos de instabilidade e para a fragilidade da democracia, Henrique Rosa desdramatiza a situação, sublinhando que estão a ser dados todos os passos para a normalização do país.

"A Guiné-Bissau procura encontrar-se. E isso preocupa- nos. Mas temos de ser realistas. Não há povo que, na sua caminhada, não tenha algo a correr mal. Estamos em busca de modelos de sociedade, de governação e de relacionamento com a comunidade internacional", explicou Henrique Rosa.
No seu entender, esse relacionamento é, hoje em dia, "bastante complicado" pelos interesses geo-estratégicos que se põem, que, "às vezes, passam ao lado dos interesses internos".

Essa situação, acrescentou, é "agravada" pelo facto de a generosidade da comunidade internacional ser cada vez menor.
"Muito do que deram no passado viu-se que foi esbanjado para enriquecimento de uma ou de outra pessoa. E isso, com o conjunto de outros factores, leva a que a Guiné- Bissau tenha dificuldades. E quando há dificuldades económicas, há reflexo imediato no tecido social. Mas estamos numa fase de transição e vamos ultrapassar todas as dificuldades", defendeu.

Frisando que se conseguiu instaurar no país "uma cultura de paz e de diálogo nacional", lamentou, no entanto, que a comunidade internacional não tenha respondido às dificuldades que a Guiné-Bissau enfrentou e enfrenta, e que tenha ficado aquém das expectativas criadas.

"A comunidade internacional dá a impressão de que responde só para apagar fogos. E quando não há fogo, mesmo que comece a haver fumo, ela ainda pensa que as brasas podem ser apagadas e não reage. E esse é o comportamento da comunidade internacional em relação à Guiné-Bissau", sustentou.

Segundo Henrique Rosa, as autoridades guineenses conseguiram acalmar um país em convulsão e deu disso provas, mas a comunidade internacional, perante essa acalmia, limitou- se a usar, "de vez em quando, paninhos quentes".
"Para as tantas carências que temos, isso não é nada.

Posso dizer que a comunidade internacional não correspondeu à medida daquilo que eu penso que podia e que o país está a precisar. São essas coisas que, depois, criam esses tais pequenos focos de que falou o secretário-geral da ONU no relatório sobre a Guiné-Bissau", concluiu.
Henrique Rosa deixou Nova Iorque no início desta semana com destino a Lisboa, de onde regressará a Bissau sexta-feira.



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