segunda-feira, outubro 25, 2004

Objectivos do Instituto Camões (2002)

Origem do documento: Jornal "Nô Pintcha", 15 Fev 2002

O presidente do Instituto Camões (IC) concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal Nô Pintcha na qual definiu os objectivos da instituição sob sua tutela, lembrou as realizações pelo IC, nomeadamente centros criados e o número dos seus estudantes e revelou os seus planos em relação à Guiné-Bissau e os passos com vista à oficialização da Língua de Camões na ONU.

Senhor presidente do Instituto Camões, quando foi criado o Instituto e qual é o seu objectivo?

Jorge Couto (JC) - Com a actual designação de Instituto Camões (IC) em 1992. Mas, o IC é herdeiro de outras instituições que começaram a funcionar nos anos 30, designadamente o Instituto para Alta Cultura e o Instituto de Cultura e Língua Portuguesa. Hoje, o Instituto Camões está implantado em mais de 50 países, e o seu grande objectivo é o de contribuir, em parceria com instituições e governos estrangeiros, para a expansão da língua portuguesa, e, em segundo lugar, promover actividades culturais relacionadas com os Países de Língua Oficial Portuguesa.

0 que é que tem feito desde a sua criação até aqui?

JC - O Instituto Camões, em primeiro lugar, criou uma rede de centros culturais em 20 cidades de todo o mundo, o último dos quais foi em Díli. Desde 1998, criou 19 centros de língua. O décimo nono foi o de Bissau que acabamos de inaugurar. O vigésimo será aberto no dia 28 de Fevereiro em Hamburgo, na Alemanha. Concede bolsas a mais de 300 estudantes de todo o mundo para a especialização em Língua Portuguesa, edita livros, tem uma página na Internet, vai inaugurar no dia 14 de Fevereiro o Centro Virtual Camões, apoia a edição de discos, CD-ROM e organiza actividades culturais, tais como espectáculos de teatro, concertos, exposição de fotografias, pintura, etç. E ainda apoia a tradução para mais de 40 línguas estrangeiras de obras de autores de Países de Língua Oficial Portuguesa.

O Instituto Camões não perspectiva a criação de mais centros no interior do país?

JC - Em alguns países, designadamente em Moçambique, em São Tomé e Príncipe, no Brasil e em Cabo Verde possuímos pólos em outras cidades que não as capitais.

Estamos a consolidar a nossa parceria com a Escola Normal Superior "Tchico Té", criação do Centro de Língua Portuguesa, e vamos remodelar o Centro Cultural Português em Bissau; encomendar um projecto de arquitectura para o novo edifício a construir de raiz, e temos também o objectivo de criar pelo menos um pólo em Mansoa logo que as nossas instalações em Bissau estejam totalmente remodeladas, e reiniciem os cursos de português para profissionais e para estrangeiros. Creio que dentro de um ano a ano e meio será possível ter concretizado um pólo na Guiné-Bissau.

No sector da Comunicação Social, o Instituto Camões tem alguma possibilidade para apoiar a formação ou superação dos médias guineenses e quais são?

JC - Através de duas vias: em primeiro lugar através dos Cursos de Língua Portuguesa que o IC vai promover no seu Centro Cultural destinados a jornalistas, médicos e outros profissionais liberais. E uma outra vertente que é possível aproveitar é através dos cursos do CENJOR (Centro de Formação para Jornalistas Profissionais), um organismo da Secretaria de Estado da Comunicação Social, em Portugal, que ministra cursos específicos de língua portuguesa para profissionais de Comunicação Social. Enquanto que o Instituto Camões se encarrega da vertente língua, o CENJOR encarrega-se da vertente específica das técnicas do jornalismo de Comunicação Social. Através do nosso centro cultural é possível planear um curso de Língua Portuguesa e de técnicas de jornalismo organizado conjuntamente pelo Centro Cultural Português, CENJOR e o Instituto Caniões.

Porque é que só agora a inauguração do Centro de Língua Portuguesa em Bissau e não antes como Moçambique e Angola?

JC . Porque o plano de criação dos Centros de Língua Portuguesa só se iniciou em Novembro de 1998 e nesse momento a Guiné-Bissau atravessava condições que não permitiram a instalação física do Centro e, concomitantemente, a criação dum Departamento de Língua Portuguesa e de uma Licenciatura em Língua Portuguesa.

0 português sendo a sexta língua mais falada no mundo, porque é que a comunidade lusófona não vai propor à Organização das Nações Unidas (ONU) a oficialização desta língua entre outras línguas oficiais deste organismo universal.

JC - Trata-se de um objectivo que tem que passar por várias fases. A primeira é de o integrar nas agências especializadas das Nações Unidas. Já começámos com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) e vamos, gradualmente, trabalhar no sentido de adoptá-la nas várias organizações e agências das Nações Unidas.

Qual é, em suma, o objectivo da sua visita a Guiné-Bissau?

JC - Inaugurar o Centro de Língua Portuguesa, abrir conjuntamente com o ministro da Educação Nacional e o director da Escola Normal Superior "Tchico Té", a Licenciatura em Língua Portuguesa e o Departamento da Língua Portuguesa. E também trabalhar com os responsáveis pela educação na Guiné-Bissau para conceber parcerias destinadas a expandir a Língua Portuguesa não só como língua oficial deste país, mas também transformar Bissau numa plataforma de expansão da Língua Portuguesa para os países vizinhos da região ocidental de África.

Quais são os planos que o senhor presidente tem, na base daquilo que constatou in loco, nomeadamente em relação à peça teatral que viu logo a tarde do primeiro dia da sua visita, no Centro Cultural Português, que espelhava bem as dificuldades dos estudantes guineenses no domínio da Língua Portuguesa, as visitas feitas à Faculdade de Direito de Bissau (FDB) e ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), para a recuperação dessas infra-estruturas destruídas durante o conflito político-militar de 1998-99?

JC - Bem, em relação à recuperação física das instalações trata-se de um programa que é desenvolvido quer pelo Instituto da Cooperação Portuguesa (ICP), quer pela Agência Portuguesa de Apoio ao Desenvolvimento (APAD), que, aliás, se está a ocupar da recuperação dos três liceus em Bissau: Liceu Nacional Kwame N´Krumah, Dr. Agostinho Neto e Samora Moisés Machel. É um projecto que prosseguirá noutros liceus do interior do país..

O Instituto Camões actua no âmbito da formação de quadros, e neste momento há quatro guineenses a formarem-se em Portugal. E através da criação do curso de português para profissionais que o Centro Cultural Português vai reiniciar e da formação de quadros. Temos neste momento 60 estudantes guineenses que começaram o ano propedêutico da Licenciatura em Língua Portuguesa.

Quem é Jorge Couto?

Presidente do Instituto Camões desde 1998, Jorge Couto nasceu em 1951 em Ponta Delgada (Açores), Portugal. É historiador e docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde, desde 1986, lecciona História do Brasil. Dissertação do Mestrado sobre "O Colégio dos Jesuítas do Recife e o destino do seu património (1759-77)". Tese de doutoramento, em preparação, sobre "O Património da Companhia de Jesus na Capitania-Geral de Pernambuco. Contributo para o estudo da desamortização no Brasil Colonial (1759-1808)". Vogal do Conselho Científico da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, representante do Ministério da Cultura na Comissão Mista Luso-Brasileira para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil.



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