sábado, outubro 30, 2004

Nomeadas novas chefias militares

Origem dos documentos: www.noticiaslusofonas.com, 28 Out 2004

1 - Tagmé Na Wai momeado Chefe de Estado-Maior General Forças Armadas

O presidente guineense publicou hoje os decretos relativos às nomeações das novas chefias militares, que confirmam o major-general Baptista Tagmé Na Wai como novo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) da Guiné-Bissau.

No decreto presidencial 21/2002, que entra imediatamente em vigor, Henrique Rosa sublinha que Tagmé na Wai é nomeado "transitoriamente" até à tomada de posse do novo chefe de Estado guineense, na sequência das eleições presidenciais de 2005.

Noutro decreto, o 22/2004, Henrique Rosa nomeia, também "transitoriamente", pelos mesmos motivos, os chefes dos três ramos das Forças Armadas.

Henrique Rosa, presidente interino da Guiné-Bissau, não nomeou, contudo, o vice-CEMGFA, nem os adjuntos dos chefes dos três ramos das Forças Armadas, assunto que, segundo disse à Agência Lusa fonte da presidência da República, ficará definido em breve.

"A morte do general Veríssimo Correia Seabra, no decorrer da sublevação militar de dia 06, em circunstâncias ainda não determinadas, provocou a vacatura do cargo de CEMGFA da Guiné-Bissau", lê-se no decreto.

O presidente guineense sublinhou que, desta forma, tornou-se necessário proceder ao imediato preenchimento do cargo, cujo nome foi escolhido depois de obtidos os consensos que a actual situação político-militar aconselham, nomeadamente dos demais órgãos de soberania, partidos políticos e chefias militares.

As novas chefias das forças armadas correspondem exactamente à proposta inicialmente apresentada, a 12 deste mês, pelos militares revoltosos.

No decreto, lê-se ainda que a decisão foi tomada tendo em consideração a "intenção inequivocamente manifestada pelos proponentes (militares), e aceite pelos propostos, de limitar o mandato dos titulares, cuja nomeação vigorará até ao final do processo de transição.

Por outro lado, o presidente guineense lembra no decreto que a anterior hierarquia militar já pusera os seus lugares à disposição a 03 de Julho último, data em que terminaram os respectivos mandatos.

"Antes de apreciado e decidido o pedido, precipitaram-se os acontecimentos decorrentes da sublevação militar de 06 de Outubro passado, aconselhando assim a nomeação de novas chefias militares", refere o documento.

A 12 deste mês, os sublevados, a pedido de Henrique Rosa, apresentaram uma lista com os nomes ora aprovados, faltando apenas saber quem assegurará transitoriamente as funções de vice-CEMGFA e de ajunto dos chefes dos três ramos das Forças Armadas guineenses.

A fonte da Presidência guineense adiantou à Lusa que os nomes deverão ser apresentados em breve, mas não pôs de parte a possibilidade de ficarem vagos até à eleição de um novo chefe de Estado, que, na qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas guineenses, procederá à nomeação.

Como chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) foi nomeado o brigadeiro-general Armando Gomes, enquanto para a Força Aérea (CEMFA) foi escolhido o brigadeiro-general piloto aviador António Gomes.

Para a chefia do Estado-Maior da Marinha (CEMM) o presidente guineense nomeou o capitão-de-mar-e-guerra José Américo Bubo Na Tchuto.

2 - Tagmé Na Wai - «incorruptível» para uns, no «sistema» para outros

O novo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) da Guiné-Bissau, Baptista Tagmé Na Wai, divide opiniões no país, pois é considerado "incorruptível e justo" por uns, e "dentro da corrupta hierarquia" militar, por outros.

No que todos estão de acordo, segundo fontes políticas e militares contactadas pela Agência Lusa desde o início das conversações para a escolha das novas chefias militares, é que se trata do oficial com mais prestígio junto das Forças Armadas guineenses, tendo a vantagem adicional de ser da etnia balanta, do sub grupo do Sul.

"É o homem ideal para o actual momento político-militar que o país atravessa", sublinhou à Agência Lusa Carlos Pinto Pereira, assessor para os assuntos jurídicos do Presidente da República.

Tagmé Na Wai era membro do Comité Militar para a Restituição da Ordem Democrática e Constitucional, a junta que destituiu, a 14 de Setembro de 2003, o regime do então presidente Kumba Ialá, também ele pertencente etnia balanta, mas do Norte.

Antes de ser nomeado CEMGFA, Tagmé Na Wai era Inspector-Geral das Forças Armadas, cargo que o levava a percorrer com frequência todas as unidades militares do país, onde é visível o respeito e o prestígio de que goza.

Tagmé Na Wai foi, aliás, quem assinou, a 10 deste mês, o "Memorando de Entendimento" com os militares revoltosos que pôs cobro à revolta militar desencadeada por um grupo de oficiais que participaram na operação de manutenção de paz das Nações Unidas na Libéria (UNOMIL).

De um lado, as chefias militares existentes, do outro, os líderes revoltosos, tendo o governo como "garante", Tagmé Na Wai assinou o documento, após breve discurso. Depois disse que era "humano, tal como qualquer outro" e desatou a chorar convulsivamente.

Conhecida é também a sua revolta e tristeza pela morte daquele que considerou um dos poucos "amigos" que afirma ter, o seu antecessor no cargo, general Veríssimo Correia Seabra, abatido em circunstâncias ainda por esclarecer no dia em que se iniciou a sublevação militar do passado dia 06.

Considerado desde o conflito militar de 07 de Junho de 1998 como um dos militares mais importantes da hierarquia castrense do país, antigo Combatente da Liberdade da Pátria, lutando na Frente Sul, Tagmé Na Wai foi, durante o regime de Kumba Ialá (2000/03), comandante da estratégica Zona Militar Norte.

Antes, na altura da presidência de João Bernardo "Nino" Vieira (1980/99), deteve, entre outros importantes cargos nas Forças Armadas, o comando da Polícia Militar (PM) guineense.

Natural do sul do país, Tagmé Na Wai, quase com 60 anos, só fala crioulo e é um "balanta do Sul", cujas rivalidades, nunca assumidas, com os do "Norte", entre eles Kumba Ialá, são latentes na estrutura militar guineense.

Por outro lado, são públicas as suas desavenças com "Nino" Vieira, nomeadamente por ter sido vítima de sevícias e torturas durante o regime desse presidente.

O seu "ódio" a "Nino" Vieira ficou patente em várias declarações públicas e, já na fase final dos 11 meses do conflito militar de 1998/99, afirmou que não descansaria enquanto não visse "Nino" Vieira morto.

No entanto, recentemente, o actual presidente guineense, Henrique Rosa, esclareceu numa conferência de imprensa que Tagmé Na Wai já "perdoou tudo" a "Nino" Vieira e que hoje, se o encontrasse, "até o abraçaria".

Quanto aos nomes dos chefes dos três ramos das Forças Armadas, eles representam, na íntegra, a proposta avançada pelos revoltosos, provando que as mais de duas semanas de negociações não chegaram para os demover na intransigência de uma reforma nas Forças Armadas e convencer o governo a encontrar outras soluções.

Para chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) foi proposto e aceite o brigadeiro-general Armando Gomes, ex-adjunto do anterior CEME, Watna Na Lai, cujo paradeiro é ainda desconhecido.

Armando Gomes é um dos homens de confiança de Tagmé Na Wai, sobretudo na estratégica região norte do país, onde o apoiou na luta para pôr cobro às constantes rebeliões armadas ligadas ao conflito em Casamança, em que um movimento armado luta pela secessão daquela província do sul do Senegal, que tem fronteira com a Guiné-Bissau.

Para a Armada (CEMA), em substituição do comodoro Quirino Spencer, foi nomeado o capitão-de-mar-e-guerra José Américo Bubo Na Tchuto, da etnia balanta e ex-comandante do Corpo de Fuzileiros, que goza também de grande prestígio entre os soldados.

A chefia da Força Aérea (CEMFA), que era liderada pelo general Melcíades Gomes Fernandes ("Manuel Mina"), tem agora à frente o brigadeiro-general piloto-aviador António Gomes, ex-vice-CEMFA e o primeiro piloto formado na Guiné-Bissau.

Quanto ao cargo de vice-CEMGFA, que era desempenhado pelo major-general Emílio Costa, o presidente guineense não apontou, para já qualquer substituto, tendo os militares revoltosos apresentado, na proposta inicial, o nome do coronel Biagué Nanti, ligado à Guarda- Fiscal e Alfandegária.

O mesmo sucedeu aos adjuntos dos chefes dos três ramos das Forças Armadas, cujos nomes propostos pelos revoltosos estão ainda a ser analisados, disse à Lusa fonte da Presidência da República.

A 12 deste mês, os revoltosos propuseram o major Lássana Mansali como vice do Exército, o capitão-de-fragata José Tavares para a Marinha e o major-piloto Braima Papa Camará para a Força Aérea.



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