sexta-feira, outubro 15, 2004

Ataque ao quartel de Mansoa

Origem dos documentos: Jornal "Público", 26 Set 2003

1 - Dois militares morreram e dois foram presos no ataque ao quartel de Mansoa

O Governo português segue com preocupação o evoluir da situação política na Guiné-Bissau, onde esta madrugada um grupo de militares atacou o quartel da cidade de Mansoa. Ainda assim, Lisboa está confiante na obtenção de um consenso entre o comité militar e os partidos políticos.

Segundo o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, que regressou hoje a Portugal após uma visita de três dias à Guiné, os acontecimentos de hoje constituem "mais um alerta" para a instabilidade que ameaça o país.

"A situação na Guiné-Bissau é motivo de preocupação e estamos a segui-la com atenção", afirmou Lourenço dos Santos, referindo que durante os três dias que passou em Bissau teve oportunidade para se reunir com as chefias militares, representantes dos partidos políticos e das organizações da sociedade civil.

"Penso que já há uma plataforma de diálogo para compromissos políticos com o comité militar", afirmou o responsável português, apesar da oposição da maioria dos partidos à nomeação de Artur Sanhá, secretário-geral do partido do deposto Kumba Ialá, para chefiar o governo provisório.

Por outro lado, o secretário de Estado considera positivas as reacções à nomeação de Henrique Rosa — "uma pessoa séria" —para Presidente interino da Guiné Bissau e o facto da maioria dos partidos ter assinado a Carta de Transição, o documento que vai nortear a actuação das instâncias provisórias até à reposição da normalidade democrática. O documento define um prazo de seis meses para a realização de eleições legislativas, continuando ainda em aberto a fixação de uma data para a realização do escrutínio presidencial.

Dois atacantes mortos no ataque ao quartel de Mansoa

Numa visita de jornalistas ao quartel de Mansoa, o comando da Região Militar Norte da Guiné-Bissau mostrou os corpos de dois alegados membros do grupo que esta madrugada atacou o local, doze dias depois do golpe de Estado que derrubou Kumba Ialá da Presidência. De acordo com um correspondente da Lusa, os militares fizeram dois prisioneiros durante o ataque, os quais foram encarcerados numa cela do quartel.

Segundo o sub-comandante António Indjai, as duas mortes resultam dos combates travados no interior do aquartelamento durante o assalto desta madrugada, perpetrado por um grupo de cerca de 40 homens que procuravam retirar armas do paiol da unidade. No interior do quartel eram visíveis marcas de balas, bem como tentativas para arrombar o paiol de munições do quartel.

A situação nas ruas de Mansoa permanece calma, apesar da presença de dezenas de militares. Esta manhã partiu de Bissau um contingente militar fortemente armado para auxiliar a guarnição local nas buscas e, segundo fontes militares citadas pela Lusa, foram capturados nos arredores da cidade alegados membros do grupo atacante, os quais estarão a ser transportados para o aquartelamento.

Segundo as informações disponíveis, por trás deste ataque estão militares com ligações ao falecido brigadeiro Ansumane Mané, que em Junho de 1998 liderou o levantamento militar precisamente a partir do quartel de Mansoa. A rebelião acabaria, após onze meses de guerra civil, por levar ao afastamento do então Presidente Nino Vieira, colocando no poder a Junta Militar liderada pelo brigadeiro.

Ansumane Mané foi morto, alegadamente em combate, nos finais de Novembro de 2000, no decurso, segundo a versão oficial, de uma tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Kumba Ialá.

As circunstâncias da morte de Ansumane Mané ainda estão por apurar e ao longo dos últimos dois anos os militares que lhe eram próximos foram detidos, e alguns ainda estão presos, por alegadas movimentações contra Kumba Ialá. Artur Sanhá é, aliás, acusado por alguns destes militares de estar envolvido na morte do brigadeiro.

Fontes militares adiantam que o grupo atacante, em número não especificado, terá sido liderado por Saliu Dafé, um oficial que comandou a polícia em Mansoa no tempo de Mané.

2 - Ataque atribuído a apoiantes do falecido brigadeiro Ansumane Mané

Pelo menos duas pessoas morreram no ataque desta madrugada contra o quartel militar de Mansoa, no Norte da Guiné Bissau, que teria como objectivo o depósito de armas e munições. De Bissau, partiu esta manhã um grupo de militares fortemente armados com destino à região, onde a situação permanece calma.

A informação é avançada pelo padre italiano David Sciocco, responsável pelo Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras (PIME) em Mansoa, em declarações à agência noticiosa missionária MISNA.

O religioso, que não esclareceu se as vítimas são civis ou militares, adiantou que o ataque começou às 03h00 (02h00 em Lisboa) e o tiroteio só terminou cerca de quatro horas e meia mais tarde.

O padre diz ter indicações de que os atacantes pertencem a um grupo de militares desmobilizado, que teriam como objectivo apoderar-se do depósito de armas e munições do quartel, um dos mais importantes do país. No entanto a guarnição militar terá conseguido rechaçar os atacantes, que se puseram em fuga.

O padre David, que se encontra em Bissau há mais de uma dezena de anos, garantiu que a situação está agora calma, mas as ruas continuam a ser patrulhadas por um grande número de militares, tendo a população local sido aconselhada a permanecer em casa.

Até ao momento, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Veríssimo Correia Seabra, líder do comité militar que derrubou Kumba Ialá no dia 14 deste mês, ainda não se pronunciou sobre o ataque, mas de Bissau partiu já um contingente fortemente armado para auxiliar a guarnição local a procurar os atacantes.

Fontes militares acreditam que por trás deste ataque estão militares com ligações ao falecido brigadeiro Ansumane Mané, que em Junho de 1998 liderou o levantamento militar precisamente a partir do quartel de Mansoa. A rebelião acabaria, após onze meses de guerra civil, por levar ao afastamento do então Presidente Nino Vieira, colocando no poder a Junta Militar liderada pelo brigadeiro.

Ansumane Mané foi morto, alegadamente em combate, nos finais de Novembro de 2000, no decurso, segundo a versão oficial, de uma tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Kumba Ialá.

As circunstâncias da morte de Ansumane Mané ainda estão por apurar e ao longo dos últimos dois anos os militares que lhe eram próximos foram detidos, e alguns ainda estão presos, por alegadas movimentações contra o regime de Kumba Ialá, entretanto deposto.

Fontes militares adiantam que o grupo atacante, em número não especificado, terá sido liderado por por Saliu Dafé, um oficial que comandou a polícia em Mansoa no tempo de Mané.

As comunicações telefónicas do estrangeiro para a Guiné-Bissau estão cortadas desde o início da manhã, pelo que a Portugal Telecom admite que tenha sido desligada a central telefónica em Bissau.

Fonte da operadora de telecomunicações portuguesa adiantou à Lusa que o facto de não se conseguir ligar para o país não se deve a um grande fluxo de chamadas, pois o sinal não responde a partir da capital guineense.

Uma fonte policial, citada pela AFP, adianta que este corte não é uma coincidência, mas foi decidido depois das rádios estrangeiras terem anunciado o ataque ao quartel de Mansoa. No entanto, as ligações internas estão a funcionar, constatou um jornalista da AFP no país.



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?