domingo, setembro 26, 2004

V Encontro das Conferências Episcopais Lusófonas

Origem do documento: Agência Eclesia, "Igrejas Lusófonas", Fundação Evangelização e Culturas, nº 9, Abril 2004

Guiné-Bissau, 16-21 de Janeiro de 2004

Com vista a delinear estratégias de aproximação e colaboração entre as Igrejas de expressão portuguesa reuniram-se em Bissau os bispos D. Tomaz Silva Nunes (Portugal), D. Geraldo Agnelo e D. Celso de Queiroz (Brasil), D. Damião Franklin e D. Eugénio Dal Corso (Angola), D. Paulino Évora (Cabo Verde) e D. José Camnate e D. Pedro Zilli (Guiné-Bissau), em representação das conferências episcopais dos seus países, contando ainda com a presença do Pe. Maia da Fundação Evangelização e Culturas. Depois de Portugal, Angola, Brasil e Cabo Verde, a Guiné-Bissau foi o quinto país a receber o Encontro das Presidências das Conferências Episcopais das Igrejas Lusófonas, coincidindo com uma altura em que este país enfrenta importantes desafios, bem como a celebração do V aniversário da morte de D. Settimio Ferrazzetta, o primeiro bispo de Bissau.

Um desafio aos políticos guineenses

Na conferência subordinada ao tema "Ética na Política", integrada neste Encontro, D. Tomaz da Silva Nunes afirmou que "na política o bem comum da sociedade tem que estar
acima dos interesses pessoais ou de grupos políticos."O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa salientou a perspectiva com que a Igreja Católica olha a vida e a política segundo a sua Doutrina Social, desafiando uma plateia de 300 pessoas, entre as quais diversos dirigentes partidários guineenses. A educação universal e ao longo da vida, a promoção da participação individual dos cidadãos na vida social e a cooperação entre a sociedade civil e as comunidades religiosas, foram alguns dos desafios enumerados por D. Tomaz Silva Nunes. Partindo do pressuposto que o ser humano é sociável, o bispo português considerou ainda que a sociedade "só pode ser
entendida como uma união de pessoas" e acrescentou que esta "só tem razão de existir se houver um fim comum" e "um enquadramento numa ordem moral" sem o qual a
"actividade política não consegue alcançar o seu fim". Na conferência " " proferida por D. Damião Franklin diante de diversos dirigentes políticos e embaixadores, o presidente da Conferência Episcopal Angolana explicou de que forma o seu país ultrapassou o conflito e como podem a sociedade e a Igreja contribuir para a
reconciliação e a paz. Para o arcebispo de Luanda "não se pode falar de reconciliação de uma forma teórica. É necessário dar ao cidadão as condições para que ele se sinta integrado no seu país" e, para a aquisição desse sentimento de pertença a uma nação, foi referida a importância da melhoria das condições de "habitação, saúde e educação". Abordando aquilo a que chamou "os direitos de terceira geração" - o direito à paz, ao desenvolvimento e ao meio ambiente - D. Damião Franklin advertiu que estes direitos devem ser proporcionados aos cidadãos de uma forma eficaz: "Os africanos querem planos sérios e objectivos de desenvolvimento". "A construção de um país faz-se através da educação, da saúde e da assistência social", salientou, acrescentando que deve ser feita uma "grande aposta" na educação: "É através das escolas que se combate a pobreza", finalizou o bispo angolano.
O Bispo de Bissau considerou este Encontro um evento não só de diálogo entre as Igrejas Lusófonas, mas "entre estas e a sociedade guineense", manifestando o seu desejo que o encontro entre os bispos lusófonos e a sociedade guineense possa ajudar o seu país "a reencontrar-se, a confiar em si mesmo e a acreditar que há mais vantagens no perdão que no uso da força".

Comunicado Final

Do comunicado final deste Encontro ressaltam a importância de um trabalho efectivo em ordem aos processos de reconciliação e de paz, bem como diversas preocupações relacionadas com problemáticas sociais, como sejam a SIDA, o desemprego, o crescente êxodo rural, o consumo de drogas, a dificuldade no acesso aos cuidados básicos de saúde e à educação, que implicam formas inovadoras de acolhimento humano e de evangelização. A progressiva secularização, o relativismo moral e o afastamento da prática religiosa foram também referidos. Aspectos positivos são a crescente importância para uma consciência de Igreja cada vez mais de comunhão e missão, fruto das apostas pastorais no campo da formação de catequistas e animadores de comunidades. Há, no entanto, que encontrar novas formas de resposta às necessidades relacionadas com a formação do clero, incluindo a promoção do seu intercâmbio. Foi ainda reforçado o papel das rádios católicas como instrumentos essenciais de difusão do Evangelho, de apoio à Educação, à causa do Desenvolvimento e à promoção dos Direitos Humanos, devendo, para tal, ser continuada a aposta na área da formação de
jornalistas. Por último, considerou-se útil uma maior articulação entre as organizações que se dedicam à cooperação com as Igrejas Lusófonas, designadamente a Cáritas, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e a Fundação Evangelização e Culturas

O próximo encontro entre as Conferências Episcopais Lusófonas terá lugar em Moçambique em 2005.



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