domingo, setembro 12, 2004

A morte do guerrilheiro "Ndajamba"

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Origem do documento: Guine-Bissau.com - 12/09/2004 09:00

GUINÉ-BISSAU PERDE UM DOS SEUS MAIS DESTACADOS EX-COMBATENTES
por Sabino Santos Lopes

O coronel, Arafan Mané vulgarmente conhecido por ‘Ndajamba’, um dos mais destacados combatentes da Luta Armada de Libertação Nacional, morreu nos princípios do corrente mês de Setembro em Espanha vitima de doença prolongada.

O malogrado que foi responsável pelo primeiro tiro que deu inicio da luta Armada no Sul do país no quartel de Tite, como comandante local, na altura com 18 anos, não conseguiu resistir a fortes espancamentos de que foi alvo no ano 1998 aquando do conflito político militar de 7 de Junho.

Nas cerimonias fúnebres que ocorreram no passado dia 11 de setembro no Cemitério Municipal de Bissau, todos os conhecidos e figuras políticas consideraram a morte de Arafan Mané de prematura, mas sobretudo é uma grande perda para o país.

Malam Bacai Sanha, ex-presidente da Republica e candidato a próximas presidenciais, considerou durante as cerimonias fúnebres que o malogrado foi um amigo de longa data e que a sua perda é irreparável. Chamou a atenção aos governantes no sentido de prestarem atenção a aqueles que sacrificaram para a independência, e disse que Arafan Mané morreu sem que os ideais para que dedicou a juventude fossem alcançados.

Um outro discurso critico que se ouviu foi o de Umaro Djalo. Um ex-combatente que esteve fora do país mais de 20 anos devido aos acontecimentos de 14 de Novembro. Djalo acha que os combatentes de liberdade da Pátria estão abandonados. Disse na ocasião que Ndjamba morreu sem que nada daquilo que soube fosse bem aproveitado.

Arafam Mané que foi responsável político do país, como secretario de estado dos ex-combatentes, ministro da defesa nacional e deputados duas vezes eleito pelo PAIGC, abandonou a política activa depois da dissolução do parlamento em Novembro de 2002.

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Origem do documento: Diário de Notícias, 15.10.1998

Suspeita de ajuste de contas

Três altas personalidades guineenses estão hospitalizadas em Dacar

O ministro Arafan Mané, o ex-responsável da segurança guineense, Jaime Sampa, e o antigo presidente do Parlamento, Tiago Aleluia Lopes, encontram-se internados no hospital de Dacar sem que as causas tenham sido até ontem explicadas.

O ministro dos Combatentes da Liberdade da Pátria, Arafan Ndajamba Mané, considerado um elemento próximo do ex-primeiro ministro Saturnino da Costa, está hospitalizado desde a semana passada. Arafan fora evacuado em Agosto passado, chegou a ter alta em Setembro após ter sido submetido a várias análises, mas foi de novo internado sem que se saiba ainda qual a causa, segundo ontem reportou a Lusa citando fontes do hotel Al-Afira, onde residia em Dacar.

No entanto, exilados guineenses na capital senegalesa, disseram que o internamento estaria relacionado com um alegado espancamento, em Julho passado, às mãos do Presidente Nino Vieira. Segundo esta versão, o ministro foi espancado e ameaçado com uma pistola pelo próprio Chefe de Estado, depois de a segurança do Palácio da República ter alegadamente interceptado uma conversa telefónica entre Arafan Mané e um elemento da Junta Militar.

Outras fontes referem que o gesto de Nino Vieira se deveu a uma proposta para que o Chefe de Estado entabulasse diálogo com a rebelião. No entanto, Arafan Mané desmentiu em Dacar, ainda segundo a Lusa, que a sua hospitalização esteja relacionada com uma presumível agressão perpetrada por ordens do Presidente, mas confirmou ser partidário do diálogo entre o Governo e a Junta Militar.

Igualmente internado num hospital de Dacar está o antigo presidente da Assembleia Nacional Popular, Tiago Aleluia Lopes, que chegou em Setembro ao Senegal acompanhado da mulher. De acordo com fontes hospitalares, encontra-se paralisado.

Também o antigo responsável da segurança guineense, Jaime Sampa, está hospitalizado na capital senegalesa.

Origem do documento: Guine-Bissau.com, 17.09.2004

PERCURSO DO AUTOR DO DISPARO QUE DEU INÍCIO À LUTA ARMADA NA GUINÉ-BISSAU

Por: TOMÁS ATHIZAR MENDES PEREIRA
Milhares de pessoas acompanharam a sua última morada, o ex-ministro da Defesa, dos Antigos Combatentes, Arafan Mané “Djamba”, falecido em Espanha vítima de uma doença prolongada.

O malogrado entrou para o PAIGC com 17 anos em 1961 em Conacri - e foi o responsável pelo primeiro tiro ao aquartelamento de Tite em 1963 dando início à luta Armada de Libertação Nacional.

Ainda, no ano anterior – 1962, como chefe do grupo, dirigiu a mobilização das massas populares em São João, Bocana e Tite.

Em Abril de 1963 frequentou um estágio de formação sobre a guerra de guerrilha, na República Popular da China. No ano seguinte foi nomeado comandante da Zona-8, sendo posteriomente transferido nas mesmas funções para Zona-2.

Em 1967 desempenhou as funções de comandante geral das operações do comando Sul. Tendo entre 1968/69 frequentado o curso de comando da Marinha de Guerra na ex-URSS, e depois de terminar foi-lhe atribuído a função de comandante-chefe da mesma.

Desempenhou também as funções de comandante da região de Tombali em 1972 – e nos dois anos seguintes, desempenhou o cargo de director do “Centro de Instrução Madina Boé”.

Arafan Mané para além de ser o homem que fora encarregue de conduzir/assegurar Amílcar Cabral até Cassaca onde o PAIGC se realizar o seu Iº Congresso, foi escolhido por Cabral para levar missivas a todos os comandantes, à excepção de Nino Vieira que recebia facilmente informações, para se dirigirem para Cassacá.

Após a independência, Arafan Mané foi nomeado chefe da Casa Militar da Presidência da República. Em 1977 foi eleito membro do Conselho Superior de Luta do PAIGC, e, no mesmo ano seguiu para Cuba onde frequentou o curso militar na academia Máximo Gorki. Promovido a coronel, em Fevereiro de 1980 – e nomeado chefe do pessoal e quadros – membro do Estado-Maior-General das Forças Armadas.

A partir de 1982, foi sucessivamente director da Central Farmedi, do Projecto de Pesca Artesanal em Bubaque e governador da região de Gabú e Bafata.
Em entrevista que deu ao DB em 2000, o coronel havia afirmado que “durante a Luta Armada de Libertação, os momentos mais difíceis para ele, para além da morte de Amílcar Cabral, Vitorino Costa e Batalha de Komo, foi o período da mobilização.”

“Quando recordo a luta, recordo muitos camaradas que perderam a vida e outros que hoje se encontram em situação miserável, por terem dedicado a juventude na luta e depois de guerra ficaram sem forças para trabalhar e não foram prestados atenção e foram simplesmente segregados”, dizia o malogrado na entrevista que deu em 2001.



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