quinta-feira, junho 02, 2005

Nino Vieira em campanha eleitoral

1/3. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 02 Jun 2005

«Nino» culpa Portugal por atraso na formação dos guineenses

O ex-Presidente da Guiné-Bissau "Nino" Vieira atribuiu hoje a Portugal grande parte da culpa pelo atraso na formação dos guineenses, indicando que, se for eleito, exigirá ao Governo português o envio de professores no quadro da CPLP.

"Por que é que não havia liceus aqui na Guiné? Por isso é que, se formos eleitos, uma das exigências que vamos fazer ao Governo português é que, no quadro da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), nos mandem professores. Que nos ajudem a reforçar a nossa integração na CPLP", defendeu o candidato às presidenciais guineenses.

João Bernardo Vieira, que fez hoje a apresentação da sua candidatura, enquanto independente, às presidenciais de 19 de Junho pediu ainda a Portugal "que não fique todo o tempo a aconselhar os seus cidadãos a não se deslocarem a Guiné-Bissau por causa da instabilidade".

"Temos que demonstrar (a Portugal) que somos capazes. É preciso que venham à Guiné-Bissau, que nos façam ver o que estamos a fazer de errado, porque eles também cometem erros", afirmou o candidato que regressou quarta-feira a Bissau após um exílio de seis anos em Portugal.

Ainda fazendo a ponte com Portugal, evocou a "queda" do Governo do ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes, que, no seu entender, "sucumbiu às críticas", para enviar um recado ao actual líder do executivo guineense, Carlos Gomes Júnior, com quem mantém fortes divergências pessoais.

"Criticaram o anterior Governo deles (de Santana Lopes) e o Governo caiu. Foram a eleições, o que também pode acontecer aqui. O Governo pode cair a qualquer momento e o Presidente da República pode sair a qualquer momento", afirmou "Nino" Vieira sempre em crioulo.

No entanto, uma situação deste tipo na Guiné-Bissau, segundo o antigo Presidente, suscita de imediato críticas de fora, dizendo que "é por causa da incompetência dos governantes, por causa da corrupção ou por má prestação".

"Venham ensinar-nos. Venham ajudar-nos. É a vossa responsabilidade moral perante o povo da Guiné-Bissau. Todos estes problemas que temos hoje no país devem-se à falta de formação das nossas populações", insistiu.

Neste contexto, fez o paralelo entre uma campanha eleitoral em Portugal, onde "os brancos falam na televisão e nos jornais" e na Guiné, onde é preciso andar de tabanca em tabanca para explicar ao povo as propostas eleitorais.

"A diferença passa pelo facto de não sabemos ler. E quem é culpado disso tudo?", questionou "Nino" Vieira, a quem a assistência respondeu, em uníssono: "Os portugueses".

O antigo chefe de Estado, que esteve 18 anos no poder (1980-1998), reconheceu que a responsabilidade pela situação cabe em primeiro lugar aos guineenses, mas não deixou de lançar a acusação: "os portugueses são responsáveis também porque abriram aqui liceus muito tardiamente".

"Quando é que tivemos o primeiro liceu aqui?", perguntou, recebendo como resposta "1958".

Nas outras ex-colónias portuguesas em África, as universidades em Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe contavam com professores expatriados, lembrou o ex-Presidente guineense, destituído durante o conflito militar de 1998/99, para acrescentar que o mesmo não aconteceu na Guiné-Bissau.

"Depois dizem que os guineenses não sabem falar português. Mas como é que vamos saber falar português se não nos ensinaram a falar português? É esse o problema. Isso é da responsabilidade de Portugal", afirmou, embora lembrando que já passaram mais de 30 anos de independência e que a questão da educação é uma prioridade.

Sem fazer qualquer referência aos anos que esteve no poder nem às mais de cinco dezenas de professores portugueses que se encontram actualmente no país ao abrigo de acordos de cooperação, "Nino" Vieira defendeu que o "problema do tribalismo" que existe hoje na Guiné-Bissau é derivado também da "falta de instrução escolar".

"Porque quem pensa ou lê não vai pensar que é de uma etnia tal, vai pensar antes como um homem que é", sustentou.

Num apelo à população no seu primeiro acto de campanha eleitoral, "Nino" Vieira pediu aos guineenses que vão às urnas com calma e em paz, para que a Guiné-Bissau possa mostrar ao mundo que "é um país civilizado", e aos candidatos para utilizarem uma linguagem "sem insultos pessoais".

"O mundo está de olhos abertos a ver-nos, pensando que somos animais irracionais. Isso não é verdade. Outros podem pensar assim, mas nós não. Até já ouvi um guineense a sugerir que as Nações Unidas deviam tomar conta da administração do país por falta de gente capaz. Mas que vergonha, se já administramos o nosso país ao longo de 30 anos de independência", concluiu.

2/3. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 02 Jun 2005

«Nino» Vieira diz que não é nenhuma ameaça para o Governo

O candidato independente às eleições presidenciais de 19 deste mês João Bernardo "Nino" Vieira afirmou que não representa qualquer ameaça para o Governo de Carlos Gomes Júnior, com quem são conhecidas divergências profundas.

Regressado ontem ao país e recebido por cerca de 20 mil pessoas, "Nino" Vieira afirmou que a sua candidatura à presidência da República guineense não deve ser vista como uma ameaça às instituições do país.

Após a leitura de um texto previamente escrito pelos seus colaboradores, o ex-presidente guineense (1980/98) respondeu às perguntas dos jornalistas em breves minutos, tendo salientado que a única condição que coloca para uma boa coabitação com o executivo é o "trabalho" e a "boa governação".

"Regressei ao meu país, definitivamente, para unir, nunca para desunir. Regressei como soldado da paz. Entrei nesta campanha eleitoral para promover a estabilidade política da Guiné-Bissau, nunca para desestabilizar o meu país e as suas instituições legítimas", frisou "Nino" Vieira ao ler o texto.

Destacou não ser ameaça para a estabilidade do Parlamento, governo legítimo, e da independência dos tribunais.

Na Guiné-Bissau o sistema político, semi-presidencialista mas com forte pendor parlamentar, reserva ao chefe de Estado os poderes de demitir o Governo.

O actual governo do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) é chefiado por Carlos Gomes Júnior, que também lidera esta força política, que apoia Malam Bacai Sanhá.

No entanto, são públicas as divergências entre "Nino" Vieira e Carlos Gomes Júnior, que, em Abril, acusou o ex-chefe de Estado de ter entrado no país, após seis anos de exílio em Portugal, como "um mercenário", uma vez que se fez transportar numa aeronave militar da vizinha Guiné-Conacri.

"Nino" Vieira considera que o "episódio" ficou para trás e reivindicou ser um factor de estabilidade política, um "aliado seguro" das instituições e um garante do normal funcionamento das instituições.

O antigo presidente guineense, deposto através de um golpe militar a 7 de Maio de 1999, frisou que a sua candidatura à presidência da República se destina a ajudar o país a "sarar as feridas abertas" com a "dolorosa experiência histórica".

Destacou que a Guiné-Bissau deve pôr de lado os "conflitos internos inúteis" para vencer a crise, sublinhando, contudo, ser necessário, antes, que o país se reconcilie.

O ex-chefe de Estado guineense frisou igualmente que a Guiné- Bissau precisa de viver em paz com os seus vizinhos, Senegal, Gambia e Guiné-Conacri, e cooperar com os "países irmãos e amigos" dentro do espírito da Carta das Nações Unidas.

Pela idade e experiência que disse ter agora (67 anos), "Nino" Vieira afirmou que, com o apoio dos seus partidários, vai vencer as próximas eleições.

A directoria da campanha de "nino" Vieira promete divulgar em breve quer o manifesto do candidato quer as acções de campanha, prevendo-se que a primeira ocorra sábado na cidade de Gabu, no leste, onde o candidato do PAIGC, Malam Bacai Sanhá, esteve no passado sábado, dia do arranque oficial da campanha.

3/3. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 01 Jun 2005

«Nino» Vieira chegou e foi esperado por mais de cinco mil pessoas

O candidato João Bernardo "Nino" Vieira regressou hoje à Guiné-Bissau, tendo no aeroporto à sua espera mais de cinco mil pessoas.

O ex-presidente guineense derrubado no final do conflito militar de 1998/99 não prestou declarações aos jornalistas, tendo de imediato entrado numa viatura rodeado por um aparatoso dispositivo de segurança feito pelos seus próprios apoiantes.

"Nino" Vieira chegou às 15:45 locais (16:45 em Lisboa) a Bissau num avião da Air Senegal procedente de Dacar.

A chegada de "Nino" Vieira fez convergir para a Avenida 14 de Novembro milhares de guineenses, que gritaram vivas ao ex-presidente ao longo dos oito quilómetros que separam o aeroporto do centro da capital.

Fonte da candidatura do ex-presidente disse à Agência Lusa ser possível que o candidato às presidenciais de 19 deste mês faça declarações na sede nacional da campanha, situada na Avenida Amílcar Cabral em pleno centro de Bissau e a pouco mais de cem metros do parcialmente destruído palácio presidencial.

O trânsito ao longo da Avenida 14 de Novembro, estrada que simboliza a data em que "Nino" Vieira chegou ao poder em 1980, ficou completamente congestionado.



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