sábado, abril 09, 2005

O regresso de Nino Vieira (09 Abr 2005)

1/5. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2005

Apoiantes de «Nino» Vieira exigem demissão do primeiro-ministro

Um grupo de apoiantes do ex-presidente guineense "Nino" Vieira, entre eles quatro destacadas figuras do PAIGC, exigiu sexta-feira a demissão do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, alegando "total falta de autoridade do Estado".

Entre os apoiantes assumidos de João Bernardo "Nino" Vieira figuram Aristides Gomes, primeiro vice-presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Cipriano Cassamá, líder da bancada parlamentar, e Hélder Proença e Francisco Conduto de Pina, ambos da Comissão Permanente.

Em declarações à Agência Lusa, os quatro dirigentes do partido que sustenta o governo indicaram que vão promover a realização de um novo Congresso do PAIGC, de forma a afastar Carlos Gomes Júnior da liderança da maior força política guineense.

Os quatro dirigentes alegaram que o executivo de Carlos Gomes Júnior tem mostrado "total falta de autoridade" em assuntos que dizem respeito à segurança interna do país, bem como "grande arrogância e falta de diálogo", quer na gestão de questões ligadas à governação, quer no interior do próprio PAIGC.

Assumindo-se todos como apoiantes de "Nino" Vieira, que regressou quinta-feira à Guiné-Bissau após seis anos de exílio em Portugal, Gomes, Cassamá, Proença e Pina indicaram que estão "fora de causa" quer novas eleições legislativas, quer a formação de um governo de iniciativa presidencial.

"O PAIGC, como grande partido, tem a capacidade para chegar a um consenso e formar um novo governo", disse à Lusa Hélder Proença.

Por outro lado, Hélder Proença não comentou as acusações feitas hoje pelo governo à "flagrante violação do espaço aéreo" guineense, quando o helicóptero militar da Força Aérea da Guiné-Conacri que trouxe "Nino" Vieira a Bissau aterrou, "sem autorização", num estádio de futebol, remetendo o jornalista para um comunicado a divulgar hoje.

O extremar de posições público surge na sequência da forte recepção popular que "Nino" Vieira está a desencadear em Bissau, onde é recebido com grande aceitação, quer popular, quer dos militares.

Muitas personalidades políticas e militares ligadas ao regime de "Nino" Vieira (1980/98), que desde 1999 se mantinham na "sombra", ressurgiram com a chegada do ex-presidente, com o intuito de o "convencer" a candidatar-se às eleições presidenciais de 19 de Junho.

Entre essas figuras destacam-se João Cardoso, "braço-direito" do ex-presidente, João Monteiro, antigo chefe dos Serviços Secretos, Carlos Domingos Gomes (pai do actual primeiro-ministro, com quem mantém um corte de relações desde 1994) e ainda vários dirigentes "históricos" do PAIGC.

"Isto parece a Presidência da República há dez anos", afirmou Edmundo Évora, um dos coordenadores do "Grupo dos 30.000", movimento da sociedade civil que está a promover o regresso de "Nino" Vieira, comentando as sucessivas visitas que "Nino" Vieira recebe na suite do hotel de Bissau em que se instalou.

Os assessores de então são os mesmos que hoje estiveram a liderar o "protocolo" de "Nino" Vieira, que deve abandonar hoje a Guiné-Bissau com destino a Conacri.

Por outro lado, o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) da Guiné-Bissau, general Tagmé Na Waie, reuniu-se sexta-feira, pela terceira vez, com "Nino" Vieira, sendo visível o entendimento manifestado entre dois rivais do passado.

Nem "Nino" Vieira, nem Tagmé Na Waie falaram à imprensa, o mesmo sucedendo com o embaixador de Portugal em Bissau, José Manuel Pais Moreira, que se reuniu no hotel com o antigo presidente do país ao longo de mais de duas horas.

Antes de regressar a Conacri, de onde seguirá para Lisboa, em princípio via Dacar, "Nino" Vieira tem hoje ao fim da manhã um encontro previsto com Kumba Ialá, também ex-presidente guineense, deposto no golpe de Estado de Setembro de 2003.

Os dois ex-presidentes cruzaram-se sexta-feira no hotel onde "Nino" Vieira está hospedado, tendo mantido uma conversa animada de cerca de cinco minutos.

2/5. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2005


«Nino» pede perdão ao Governo por qualquer acto involuntário


O antigo presidente guineense "Nino" Vieira pediu hoje "perdão" ao governo da Guiné-Bissau "por todo e qualquer acto involuntariamente cometido e eventualmente considerado danoso" aos interesses do país.

Num comunicado, João Bernardo "Nino" Vieira responde assim a um outro documento do executivo de Carlos Gomes Júnior que, sexta- feira, condenou a "violação flagrante do espaço aéreo" guineense, consubstanciada no regresso do ex-presidente ao país num helicóptero militar da Força Aérea da vizinha Guiné-Conacri sem autorização oficial.

"Peço perdão ao governo da Guiné-Bissau por todo e qualquer acto involuntariamente cometido e eventualmente considerado danoso" aos interesses e à segurança do país, afirma "Nino" Vieira no documento.

O ex-presidente guineense sublinha que o pedido de perdão tem por base a "atmosfera que foi criada" em torno do seu "tão desejado regresso" ao país, após seis anos de exílio em Portugal.

O helicóptero que trouxe "Nino" Vieira, bem como a sua mulher, Isabel Romano Vieira, aterrou quinta-feira ao princípio da tarde no Estádio Nacional 24 de Setembro, em Bissau, estando agora estacionado nas instalações da Marinha de Guerra guineense.

"Nino" Vieira sustenta também que o seu regresso à Guiné- Bissau enquadra-se "no espírito e na letra da histórica resolução" aprovada pelo Parlamento local em Dezembro de 2004, que, no seu entender, "exorta a uma efectiva reconciliação nacional de toda a família guineense".

O ex-chefe de Estado guineense lembra que regressou ao país "também animado" pelo desejo de "garantir o exercício" dos seus direitos cívicos, através do recenseamento como eleitor, em Bissau, para poder votar nas eleições presidenciais de 19 de Junho.

Nesse sentido, reafirma o seu "mais profundo desejo" de participar na "dinâmica de paz, perdão e reconciliação nacional" e agradece a todos os que tiveram a "amabilidade" de o receber.

Entre eles, afirmou "Nino" Vieira, figuram os representantes das instituições da República, como o presidente do Parlamento, Francisco Benante, dos organismos internacionais, regionais e sub regionais e do corpo diplomático acreditado em Bissau, com destaque para o embaixador de Portugal, José Manuel Pais Moreira.

Sexta-feira, em comunicado, o governo, que se reunira de urgência em Conselho de Ministros, além da acusação da violação do espaço aéreo, sublinhou que essa situação só foi possível porque houve "omissão de dever" das autoridades, a quem compete zelar pela segurança e ordem pública do país.

Por outro lado, e sem apontar nomes, adianta ainda ter havido "cumplicidade" por parte de "entidades oficiais", sublinhando que todos os factos decorrentes da "agitação pública" provocada pelo regresso de "Nino" Vieira ao país vão agora ser averiguados para que se possa, depois, "responsabilizar os seus promotores".

3/5. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2005

«Nino» e Ialá disponíveis para apoiar quem se candidatar às eleições

"Nino" Vieira e Kumba Ialá reencontraram-se hoje na residência do segundo e manifestaram-se disponíveis para apoiar a candidatura de quem, entre ambos, vier a apresentar-se às eleições presidenciais de 19 de Junho na Guiné-Bissau.

Os dois ex-presidentes da Guiné-Bissau, ambos depostos em golpes de Estado, reuniram-se durante cerca de 45 minutos na residência de Kumba Ialá e ambos reivindicaram que poderão ser candidatos.

"Eu sou melhor candidato que "NinoÈ Vieira, tanto mais que tenho maior capacidade para jogar futebol do que ele", brincou Kumba Ialá, ao que ambos soltaram uma sonora gargalhada, uma situação comum na reunião e no final da visita.

"Mas eu ainda estou disponível para jogar futebol. Tenho força e pujança para isso. Aliás, gosto muito de jogar futebol", atirou de imediato "Nino" Vieira, provocando novas gargalhadas de todos os presentes.

Mais a sério, tanto "Nino" Vieira como Kumba Ialá disseram-se dispostos a apoiar a candidatura de quem se apresentar, pondo de parte a possibilidade de ambos concorrerem à mesma votação.

"Não vejo mal nisso [apoiar Kumba Ialá], se ele é um candidato e está disposto a servir o país", afirmou "Nino" Vieira, negando ter qualquer intenção, para já, em apresentar-se às presidenciais.

Questionado pela Lusa sobre a mesma questão, Kumba Ialá respondeu: "Com certeza. Se ele tiver a força da juventude que eu tenho, vou apoiá-lo".

Kumba Ialá adiantou ser "um prazer" receber "Nino" Vieira na sua casa, situada no bairro internacional em Bissau, e considerou o ex- presidente uma "personalidade histórica que encarna o nascimento da Guiné-Bissau" e um "guerrilheiro lendário".

O também ex-presidente afirmou ainda sentir que, perante "Nino" Vieira, está "na presença de Amílcar Cabral", "pai" das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

Kumba Ialá, deposto no golpe de Estado de Setembro de 2003, insistiu, brincando, que "Nino" Vieira "não é nenhum adversário político", sublinhando que os verdadeiros opositores são "as pessoas da mesma geração" que a sua.

"Os nossos adversários políticos nunca poderão ser pessoas que são heróis e lendários, que encarnam o nascimento do país e que devolveram a dignidade ao povo guineense", afirmou Kumba Ialá.

Continuando na brincadeira, e sempre em comparações com o futebol, Kumba Ialá acrescentou: ""NinoÈ Vieira já não pode jogar à bola como eu".

Ao que o visado replicou: "Para já não sou candidato, por isso não posso afirmar nada sobre se vou ou não dirigir o país. Mas sinto- me com capacidade e até gostaria de jogar futebol".

"Nino" Vieira insistiu na ideia de que até hoje não foi contactado por qualquer partido político com o objectivo de o apoiar na corrida presidencial, mas, questionado pela Lusa sobre se pensa candidatar-se como independente, respondeu: "É preciso pensar duas vezes".

"Nino" Vieira cumpre hoje o último dia da sua deslocação a Bissau, após seis anos de exílio em Portugal, onde se encontra desde o final do conflito militar de 1998/1999.

O ex-presidente, que deverá voltar hoje a Conacri, regressou ao país para se recensear como eleitor em Bissau, de forma a poder recuperar os seus direitos cívicos e votar nas presidenciais de Junho.

Os dois ex-presidentes contam com o apoio de movimentos da sociedade civil, tendo Kumba Ialá obtido já o apoio expresso da força política que fundou em 1992, o Partido da Renovação Social (PRS, maior da oposição), para se candidatarem às presidenciais.

Enquanto Kumba Ialá indicou já que vai depositar a sua candidatura no Supremo Tribunal de Justiça, na próxima segunda-feira, "Nino" Vieira ainda não deu qualquer indicação nesse sentido.

No entanto, o director do movimento da sociedade civil que apoia "Nino" Vieira, Jorge Pinto, indicou à Lusa que o ex-presidente deverá confirmar a sua candidatura ao longo da próxima semana, dado que o prazo termina a 19 deste mês.

4/5. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2005

«Nino» deixou Bissau e regressa dentro de três a quatro semanas

O antigo presidente guineense João Bernardo "Nino" Vieira deixou Bissau hoje quando eram 16:50 rumo à Guiné-Conacri, de onde partiu na última quinta-feira para uma visita de três dias ao país.

Segundo fontes da organização do regresso de "Nino" Vieira à Guiné-Bissau, o ex-presidente deve voltar ao país dentro de três a quatro semanas, onde permanecerá "um largo período".

Sem prestar declarações à imprensa e longe dos olhares dos jornalistas, o helicóptero militar em que "Nino" Vieira se fez transportar levantou voo nas instalações da Marinha de Guerra local, onde a aeronave ficou estacionada desde o dia da chegada do ex-chefe de Estado guineense.

Os serviços de protocolo avisaram os jornalistas que, "por razões de segurança", não havia lugar para qualquer encontro com a imprensa, uma vez que "Nino" Vieira tinha de chegar a Conacri antes do anoitecer.

Fontes ligadas a organização do regresso de "Nino" Vieira ao país indicaram à agência Lusa que o antigo presidente deve seguir "dentro de três dias" para Portugal, onde ainda continua a gozar do estatuto de exilado político, fixado em Junho de 1999.

Dentro de três ou quatro semanas, acrescentou a mesma fonte, o antigo chefe do Estado guineense voltará ao país para se instalar por "um bom período".

Antes de partir, "Nino" Vieira reforçou, num encontro com cerca de cinco dezenas de mulheres, que não tomou nenhuma decisão sobre uma eventual candidatura às presidenciais de 19 de Junho.

"Como devem calcular, essa decisão não a posso tomar de ânimo leve. Tenho de ouvir a opinião da minha família. Mas, desde já vos digo que não é fácil, pois a minha família já me deu indicações de que não está de acordo. Alguns dos meus filhos nem souberam desta minha vinda ao país", disse "Nino" Vieira, que recebeu, de imediato, fortes apelos para que se decida candidatar.

O antigo chefe de Estado apenas prometeu "pensar seriamente" e voltar para, "juntamente com a classe dirigente e política", percorrer o país de lés a lés a mostrar que os factores "unidade, empenho e dedicação" são determinantes para fazer a Guiné-Bissau sair da "difícil situação em que se encontra".

"Foi o que dissemos hoje, eu e o doutor Kumba Ialá. Temos de acabar com as guerrinhas e desenvolver o país. Foi o que ouvi hoje dos meus camaradas antigos combatentes. O país é pequeno demais para tanta gente não o poder fazer desenvolver", afirmou "Nino" Vieira.

O antigo chefe de Estado vincou ser o "divisionismo, o tribalismo e as intrigas" os principais elementos que conduziram a Guiné-Bissau para a situação em que se encontra, instando os guineenses a banir tais fenómenos.

5/5. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 09 Abr 2005

«Nino» Vieira vai pedir a Portugal fim estatuto de exilado político

O ex-presidente guineense "Nino" Vieira vai formalizar junto do governo português, em breve, o pedido para se por termo ao estatuto de exilado político que lhe permitiu residir em Portugal desde Junho de 1999.

A informação foi avançada por João Cardoso, antigo ministro em vários governos de João Bernardo "Nino" Vieira, e um dos principais promotores do regresso do ex-presidente guineense ao país natal, onde chegou quinta-feira e de onde partiu hoje rumo à vizinha Guiné-Conacri.

Segundo João Cardoso, que seguiu também para Conacri, o facto de "Nino" Vieira ter abandonado Portugal para se dirigir ao seu país de origem, por si só, justifica a perda do estatuto, uma vez que é essa a regra estipulada na Convenção de Genebra.

Segundo a convenção, um exilado político pode viajar, com autorização do país de acolhimento, para qualquer país do mundo mas, se se deslocar ao Estado de onde saiu, o estatuto perde imediatamente a validade.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, confirmou quarta-feira que as autoridades portuguesas foram informadas pelo ex-presidente guineense de que ia ausentar-se de Portugal e tencionava ir à Guiné-Bissau para se recensear.

O chefe da diplomacia portuguesa esclareceu então que "Nino" Vieira continuava exilado em Portugal em conformidade com a lei portuguesa e as convenções internacionais.

O ex-chefe de Estado guineense vai, no entanto "e por uma questão de princípio", requerer o fim do estatuto, pois estão garantidas as condições de segurança fundamentais para que possa regressar definitivamente ao país.

"Trata-se de uma questão de princípio mas também de agradecimento e reconhecimento pela forma como as autoridades portuguesas o protegeram e acolheram ao longo de quase seis anos", afirmou João Cardoso, que admitiu que "Nino" Vieira poderá regressar a Bissau dentro de um mês para passar uma "boa temporada".

A confirmar-se o regresso naquela altura, "Nino" Vieira estará presente no país durante a campanha para as eleições presidenciais de 19 de Junho próximo, desconhecendo-se ainda se o ex-presidente (1980/98) será um dos candidatos.



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