sexta-feira, fevereiro 25, 2005

CEMGFA promete reconciliar a classe castrense (25 Fev 2005)

1. Origem do documento: www.guine-bissau.com, 25 Fev 2005
por: SABINO SANTOS LOPES

CEMGFA PROMETE RECONCILIAR A CLASSE CASTRENSE

A Comissão de Reconciliação nas Forças Armadas liderada pelo General Buota Na Batcha, iniciou as suas actividades no passado dia 25 de Fevereiro. Na cerimónia da abertura presidida pelo ministro da Defesa, Daniel Gomes, todos os discursos foram direccionados a “imperatividade da reconciliação, como forma de poder garantir a paz e estabilidade na Guiné-Bissau”.

O General Baptista Tagme Na Waie, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, considerou o dia como sendo o da paz para todos os guineenses, com particular destaque para às Forças Armadas que qualifica de republicanas para a defesa do povo. O General reconhece que neste momento, a Guiné-Bissau “não merece confiança da Comunidade Internacional” e prometeu que o actual do Estado-Maior vai inverter essa tendência.

“Ao longo desses anos, o povo da Guiné-Bissau tem sido alvo de mau tratamento. Vamos trabalhar para pôr fim a este mau tratamento, e reconciliar todos os militares”, prometeu. Segundo ele, nos conflitos que têm vindo a assolar o país, quem morre são os militares. O General prometeu que isto vai acabar. “É a vontade de acabar com situações desta natureza que criamos essa comissão de reconciliação. Para nós, não é normal Forças Armadas estarem divididas em três partes. E quando alguém diz na rua de que não há tranquilidade na Guiné, é porque viu a divisão reinante nas Forças armadas. A Comunidade Internacional já não acredita na Guiné-Bissau. Nós, é que faremos a CI acreditar. Temos que unificar as FA”, prometeu.

O improviso do CEMGFA era constantemente interrompido por ovações dos oficiais que se encontravam na sala, vindos de diferentes unidades e de todas as zonas militares. Falou-se tanto na reunificação, mas certas questões ficaram por referir. Dentre essas questões a situação dos oficiais afastados das FA aquando do golpe militar de 6 de Outubro de 2004. Tagme Na Waie só prometeu que “as FA vão ser modernidades”, para serem iguais a de outras partes do mundo.

Para já nessa cerimónia tudo (como aliás várias vezes se ouviu), foi dito. O General prometeu “ao mundo” (expressão por ele utilizado) que as FA da Guiné-Bissau “vão respeitar ao poder político”.

“Em contrapartida disso, pedimos aos políticos guineenses, para nos deixarem fazer o trabalho militar. Aconselhamos-lhes a organizarem seus partidos nas suas sedes. As nossas sedes (nós militares) são os quartéis. Os nossos militantes são nossos militares”.
As advertências do CEMGFA foram acompanhadas de um sério aviso para os próprios militares. “É preciso que fique claro para todos os militares guineenses que, todo aquele que for apanhado na sede de um partido político, automaticamente irá entregar farda”, ameaçou, seguido de uma forte ovação dos companheiros.

O CEMGFA não fartava de apelar o benefício de dúvidas por parte do povo guineense aos militares - tendo inclusive recordado o bom relacionamento entre ambos durante a Luta Armada de Libertação Nacional. “Acreditem que vamos conseguir fazer dessas FA aquelas que o país precisa”, exortou.

Contudo, uma parte do discurso do CEMGFA continua a alimentar dúvidas. Numa das passagens, disse saber que existem pessoas que tentam fazer campanhas de mobilização nos quartéis, para que os militares voltem a pegar nas armas. “Essas pessoas são simples oportunistas, pelo que apelamos-lhes a manterem-se nos lugares onde estão. Quem não estiver satisfeito que fique em sua casa. Tínhamos altos oficiais que foram mandados sentar simplesmente. Mas chegamos conclusão de que já não há motivos. Agora, se alguém entender com alguns pequenos gestos ou bens pode mudar o rumo das coisas nos quartéis que saiba que está enganado. Não vamos admitir isso, e sabemos quem é quem. Que ninguém se engane”, advertiu, sublinhando que vai respeitar os conselhos do povo, poder político e a Comunidade Internacional.

“É possível esquecermos tudo”

Mas antes do discurso do CEMGFA, o General Buota Na Batcha que vai liderar essa comissão, salientou que a finalidade dessa campanha que deverá decorrer durante trinta dias em diferentes unidades militares do país, “é fazer os militares esquecerem-se do passado”. Acredita ser possível reconciliar os militares, porque o país já tinha vivido situação idêntica.

“Nos primeiros anos da luta armada, os problemas foram vários. Mas no congresso de Cassacá reconciliamos e esquecemos tudo. Espero que tal volte acontecer”. Para Buota Na Batcha, os guineenses têm que incutir na mente definitivamente de que, a guerra não leva o país ao lado nenhum a não ser o abismo e a miséria. “Queremos que o dia 25 de Fevereiro seja o dia da reconciliação nacional; do exército cuja a única finalidade é defender o Estado da Guiné-Bissau. Prometo ao CEMGFA que vamos lutar para que o seu sonho de reconciliar os militares seja uma realidade”.

Antes de atingir esses objectivos, algumas verdades devem ser ditas. E no encontro, Na Batcha disse algumas verdades. Uma dessas verdades é o reconhecimento da divisão profunda existente no seio das Forças Armadas. “Todos vocês aqui sabem que tenho idade avançada e já não precisava de vergar mais fardas. Mas não posso abandonar porque as FA estão totalmente divididas. Estão sem rumo. E eu vim para ajudar. No dia em que chegar a conclusão que tudo está bem, vou despedir, porque já terei condições de sentar em paz. Mas por agora, que a verdade seja dita, não há tranquilidade”, reconheceu.

Buota Na Batcha, foi braço direito do General Ansumane Mané, no conflito político-militar de 7 de Junho. Em Novembro de 2000 - depois de Mané ter manifestado contra as promoções feitas na altura pelo regime, decidiu auto-proclamar comandante supremo das FA e nomear Buota Na Batcha o CEMGFA. O nomeado não chegou a assumir as funções, na altura ocupadas por Veríssimo, Seabra, o então poder político decidiu fazer a guerra. Mané foi morto; Buota preso e afastado das FA. Em 2002, foi julgado e condenado. Desconhece-se a situação da sentença, mas nos dias que correm, mereceu a confiança de Tagme para reconciliar as três facções existentes nas FA.

Como quem dá resposta a questões acima levantadas, Buota disse para os militares, que hoje na Guiné-Bissau, “as armas não devem servir para matar o próximo. Somos irmãos e se há alguma questão temos que discutir. Só isto basta para chegarmos o consenso”.
Mostrou-se algo crítico com a situação de abandono em que as FA fora deixadas.

O discurso político da cerimónia estava reservado para o ministro, Daniel Gomes. Assumiu algumas responsabilidades políticas, em como o Governo vai apoiar e acompanhar de perto esse processo de reconciliação.

O ministro acusa os políticos de abandonarem as FA e chegou mesmo a afirmar que “muitos problemas enfrentados pelo país devem-se ao egoísmo de certas pessoas”.

Garante que vão melhorar a situação e reactivar as unidades de produção. Quase que ficou sem advérbios para qualificar essa iniciativa do General Tagme Na Waie.

2. Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 25 Fev 2005

«Militar que quiser fazer política entrega a farda», avisa CEMGFA

O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas CEMGFA) da Guiné-Bissau garantiu hoje que não tolerará quaisquer interferências dos políticos nas casernas, nem dos militares nos partidos, apelando à comunidade internacional para confiar no Exército guineense.

Numa intervenção crítica para com "mentes que querem confundir os soldados" guineenses, que não especificou, o general Baptista Tagmé Na Waie sublinhou que não vai admitir que as Forças Armadas da Guiné-Bissau continuem divididas em três grupos.

O CEMGFA, que discursava por ocasião do início da campanha de sensibilização sobre a reconciliação e reintegração nas Forças Armadas, deixou claro que a unidade do exército é "irreversível", numa alusão às alegadas divisões entre as FA actuais e elementos ainda ligados a "Nino" Vieira e a Ansumane Mané.

"Quando se ouve dizer que não há tranquilidade na Guiné-Bissau é porque se sabe que as Forças Armadas estão dividias em três grupos. A comunidade internacional não confia nas FA e com razão. Nós é que temos de fazer que volte a confiar no país", afirmou o general guineense.

Tagmé Na Waie referiu-se também às relações entre políticos e militares, avisando que não tolerará quaisquer interferências nos quartéis nem de militares nas sedes partidárias.

"Vamos ser claros para com os nossos militares: quem for visto na sede de um partido político deve entregar imediatamente a sua farda e vai para casa fazer política com esse partido, se assim o quiser", avisou o CEMGFA guineense, aplaudido por centenas de soldados presentes.

Tagmé Na Waie sublinhou, por outro lado, que a reforma em curso nas Forças Armadas, em que a reconciliação é a palavra de ordem, tem por finalidade a unidade de todos os irmãos guineenses, "para que o mundo perceba que as Forças Armadas vão respeitar o poder político".

"Queremos dizer aos partidos políticos da Guiné- Bissau, cujos elementos são nossos familiares - irmãos, sobrinhos, tios -, que nos deixem fazer o nosso trabalho militar nos quartéis. Que cada um vá organizar o seu partido na sua sede. Para nós, os militares, as nossas sedes são os quartéis e os nossos militares são os nossos militantes", referiu.

Por isso, acrescentou, as Forças Armadas estão "apostadas" em devolver a paz e tranquilidade ao país, "pois o povo merece-as e merece também um exército como os de outros países do mundo".

"Queremos umas Forças Armadas republicanas, conscientes das nossas responsabilidades para dar continuidade à obra do nosso saudoso líder Amílcar Cabral ("pai" das independências da Guiné e Cabo Verde)", sublinhou.

"Apelamos à comunidade internacional para que tenha confiança nas Forças Armadas da Guiné-Bissau. Estamos a fazer por isso. Apelamos também ao povo da Guiné-Bissau que tenha confiança em nós, que nos ajude e nos dê conselhos para o caminho da paz", acrescentou.

Tagmé Na Waie anunciou, por outro lado, a criação de uma comissão, de 14 membros, que vai percorrer todas as unidades militares do país para divulgar esta mensagem integrada na campanha de sensibilização para a reconciliação e reintegração dos militares nas Forças Armadas.

A comissão, que terá de apresentar um relatório no prazo de 25 dias, é liderada pelo major-general Buota Na MÈBatcha, antigo "número dois" das tropas fiéis a Ansumane Mané, e que desempenha actualmente as funções de conselheiro principal do CEMGFA.



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