quinta-feira, janeiro 20, 2005

Bairro Militar: o mais populoso, mais desorganizado e mais pobre (Jan 2005)

Origem do documento: www.guine-bissau.com, 12 Jan 2005
por Zezinha Fernando Biombo

O CONFLITO

Bairro Militar é, sem dúvida, o mais populoso e a mais desorganizado da cidade de Bissau. Acolhe também a população mais carenciada da capital guineesnse.

Os seus habitantes batalham diariamente para fazer do Bairro Militar uma Bairro de referência e convencer as autoridades municipais da cidade de Bissau a zelar na implementação do plano directório municipal do seu Bairro.

A implementação do plano directório municipal poderá ajudar a promover a urbanização e perspectivar o desenvolvimento do Bairro Militar. Pois, nas circunstâncias actuais, de uma autêntica desurbanização, será difícil perspectivar quaisquer espécie de projecto ou micro-projecto de desenvolvimento económico, empresarial e social no Bairro Militar.

Ausência de um plano municipal tem dificultado, tal como nos outros Bairro de Bissau, a existência e o desenvolvimento de um tecido empresarial no Bairro Militar. A actividade empresarial do Bairro é consubstanciada apenas nos pequenos comércios informais desenvolvidas pelos comerciantes Dijlas nos dois mercados locais.

Não existe no Bairro Militar nenhuma empresa nacional nem um multinacional que poderiam criar o emprego para milhares dos jovens desempregados do bairro Militar.

Aliás, o elevado número dos jovens desempregados pode estar na base da violência que se verifica no Bairro Militar que levou, em 2001, o Comissariado da Policia Nacional da Ordem Pública (POP) a fechar a única Esquadra da policia que existia no Bairro.

A história do fecho da Esquadra conta-se em poucas linhas. Num desentendimento entre um agente da polícia e um morador do Bairro, o agente bateu atiro o morador. A reacção não durou muito tempo, os populares invadiram a Esquadra da Policia e mataram também o referido agente.

Perante este cenário de impotência dos agentes da Esquadra pela invasão dos populares, o Comissário Geral da POP mandou, pura e simplesmente, fechar a Esquadra.

Sem Esquadra da Policia a violência passou a andar a solta no Bairro Militar, sobretudo, na zona de prédio inacabado do ex-presidente da República João Bernardo Vieira (Nino Vieira), onde as pessoas são permanentemente atacadas e assaltadas quando vão ou saem da Discoteca Bambu 2000.

Com a violência a solta, os habitantes do Bairro Militar foram obrigados a organizar “brigada” da defesa do seu Bairro.

É esta brigada que combatia a violência e assalto no Bairro. Todavia, os membros da brigada defrontavam com a ausência de funcionamento da justiça na Guiné-Bissau que os levaram a perder moral de empenharem no combate a violência e assalto no seu Bairro.

Queixam que cada vez deterem e entregarem um assaltante a Policia este é libertado num curto espaço de tempo sem que seja feito a justiça.

No ano transacto, as associações dos moradores do Bairro Militar tentaram reunir com o Ministério do Interior para analisar o problema de violência e dos assaltantes detidos e entregues a Policia que são libertados sem que seja feita a justiça. Mas, até então ainda não conseguiram encontrar uma solução adequada para ultrapassar a situação.

Na realidade o Bairro Militar foi a linha de frente durante o conflito político militar de 1998. Assim, existe no Bairro muitas armas na posse dos seus habitantes.

Para recolher as armas é necessário o governo promover, em colaboração com a comunidade internacional, um programa de sensibilização da entrega voluntária das armas que se encontram na posse dos moradores do Bairro Militares.

Os moradores do Bairro Militar não estão, todavia, de braços cruzados. Procurarão sempre encontrar solução para acabar com a violência no seu Bairro.

Assim, em Novembro do ano transacto conseguiram fazer voltar a Esquadra da Policia para Bairro Militar e procuram reactar agora com a Câmara Municipal de Bissau (CMB) o protocolo de acordo de cooperação que permitirá a implementação do plano de urbanização do seu Bairro.

Procuram, igualmente, junto a CMB meios necessários para limpar as valas do Bairro que estão, neste momento, cheios de lixos.

Ainda este ano, em colaboração com a Associação AIFA-PALOP, Bairro Militar terá um Centro de Saúde para poder resolver problemas de milhares dos seus habitantes que são obrigados a deslocar quase diariamente a Hospital Nacional Simão Mendes.

Os moradores do Bairro Militar estão consciente que é necessário a contribuição de todos para promover o bem-estar do seu Bairro e limpar a má imagem do Bairro.

Exortam ao governo, em particular, a CMB para a materialização da implementação do plano directório municipal do Bairro Militar.

HISTÓRIA DE UM BAIRRO

Qualquer cidadão guineense ou estrangeiro que visite hoje Bairro Militar e que pretende conhecer a sua história terá que recorrer a história da luta da libertação nacional, porquanto a história da emergência de Bairro Militar está, sem dúvida, ligada a história da luta armada da libertação nacional.

Pois, foi com a intensificação da luta armada e institucionalização de um Estado e de uma administração nas zonas libertadas pelos guerrilheiros que lutavam contra o regime colonial português que teve na base da emergência do Bairro Militar.

Com a implementação da administração nas zonas libertadas, Amílcar Cabral iniciou a política de valorização da população que vivia nas tabancas das zonas sob administração do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

O PAIGC procurava, na altura, demonstrar nas tabancas das zonas libertadas que não obstante, a Guiné-Bissau ainda não conquistar a sua independência, os seus guerrilheiros possuia condições mínimas para viver nas tabancas constituídas nas zonas libertadas.

Foi na óptica de contrapôr a política de administração das tabancas das zonas libertadas que valorizava a cultura urbana dos guerrilheiros do PAIGC, que o então governador da Guiné-Portuguesa General António Sebastião Ribeiro de Spinola construiu na zona de Bissaguê, nos terrenos da etinia papel, um Bairro de 56 casas para os militares africanos que cumpriam serviços militar no exercito português.

Habitado exclusivamente por militares, na sua maioria comandos africanos, o Bairro não podia ser batizado com outro nome a não ser Bairro militar.

Para além do Bairro Militar, situado a cinco quilometros da cidade Bissau, General António Sebastião Ribeiro de Spinola construiu também em Bissunaguê e no sector de Ingoré, Bairros de mesmo género para a população local.

Depois da independência nacional, os guerrilheiros do PAIGC afastaram os militares do exercito português que residiam no Bairro Militar e ocuparam as 56 casas construidas pelo então governador da Guiné-Portuguesa.

Segundo rezam as crônicas do processo da independência nacional alguns destes militares portugueses que residiam no Bairo Militar foram perseguidos e fuzilados por alegadamente cometerem crimes contra a patria quando cumpriam serviço militar no exercito português.

Com o afastamento dos militares portuguêses, em 1975, Bairro Militar iniciou um processo de crescimento sem precedente na cidade de Bissau, tendo actualmente 140 mil habitantes.

Contudo, um estudo de uma Organização Não Governamental (ONG), do Bairro Militar denominado AIFA/PALOP, efectuado em três zonas do Bairro demonstra que nas referidas zonas vivem 16.928 habitantes, dos quais 5.343 são homens maiores de 15 anos, 4.823 são mulheres maiores de 15 anos, 3.351 são homens menores de 15 anos, 3.411 são mulheres menores de 15 anos de idade.

Embora a sua história estaja, inevitavelmente, ligada a história da luta armada da libertação nacional, após da independência o Bairro Militar perdeu a sua caracteristica de ser povoado exclusivamente por militares. Todavia, continua a ser Bairro onde reina mais violência, chegando ao ponto dos seus habitantes expulsar a Esquadra da policia do Bairro.

Bairro Militar foi, durante o conflito politico militar de sete de Junho de 1998, a linha de frente entre tropas da Junta Militar e tropas fieis ao Ex-Presidente da República João Bernardo Vieira (Nino).

É no Bairro Militar que está situado o mitico poilão de Brá onde os militares das ambas partes que combatiam se encontravam para discutirem a forma de implementação dos acordos de paz que eram assinado por General Ansumane Mané e Nino Veira.



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